Chega o final do ano e, assim, igual a todo leitor que se preze, gosto de fazer um balanço das minhas leituras, eleger aqueles que me acompanharam por alguns dias, semanas e até meses. Estes balanços são importantes porque nos dão uma dimensão do nosso desempenho enquanto leitores. Numa sociedade que teima em nos tirar dos livros, esta revisão é importante, pois tenho a impressão de que a cada dia que passa se torna mais difícil manter a atenção na leitura. Ficar quieto diante de um livro talvez seja o maior desafio para quem gosta de ler.
De uns tempos para cá, sinto que minha carga de leitura diminuiu. Já não sou o mesmo leitor ávido em busca de novas histórias. Tenho, sim, relido muita coisa, mas geralmente para fazer algum tipo de trabalho. Aquela leitura desinteressada virou coisa rara. Também já não sou aquele leitor ingênuo que se assombra facilmente com as histórias. A literatura já não me comove com facilidade. Sinto que me tornei mais duro diante dela.
Por outro lado, fiz algumas leituras este ano que me ajudaram a olhar para a vida de um outro modo. Poemas, romances, contos e crônicas que partilharam comigo um certo sentimento de mundo, um certo sentimento raro que me tiraram por algum tempo deste excesso de realidade que a modernidade nos impõe.
Portanto, nesta coluna, aproveito para indicar livros que me suspenderam do real e me fizeram regressar à literatura, com toda a força e a delicadeza da boa ficção. É o meu modo de agradecer aos autores e autoras por terem trazido suas histórias ao mundo. Sei que devo ter deixado de ler muita coisa, então, assim como todas as listas, esta está incompleta:
Canção para Ninar Menino Grande, Conceição Evaristo; O Som do Rugido da Onça, Micheliny Verunschk; Pequena Coreografia do Adeus, Aline Bei; Vozes de Retratos Íntimos, Taiasmin Ohnmacht; Devoção, Guto Leite; A Pediatra, Andrea Del Fuego; Maremoto, Djaimilia Pereira de Almeida; A Extinção das Abelhas, Natalia Borges Polesso; Domingo, Ana Lis Soares; Também Guardamos Pedras Aqui, Luiza Romão; Selfie-purpurina, Fernanda Bastos; A Vestida, Eliana Alves Cruz; Mas em que Mundo Tu Vive?, José Falero; Palavra Preta, Tatiana Nascimento; Vista Chinesa, Tatiana Salem Levy; A Nota Amarela, Gustavo Czekster; Uma Tristeza Infinita, Antônio Xerxenesky; Pela Hora da Morte, Nathallia Protazio; Quarentena – Uma História de Amor, José Gardeazabal; Predadores, Clara Corleone; Corpo Desfeito, Jarid Arraes; Também os Brancos Sabem Dançar, Kalaf Eplanga; A Água É uma Máquina do Tempo, Aline Motta.