Levado mais uma vez por seu piloto automático, que entra em ação sempre que os gatos gordos de Brasília se veem diante de alguma dificuldade, o governo Lula acaba de passar um novo recibo. O Ministério da Justiça enrolou-se num caso de convívio amistoso com o crime organizado. Uma reportagem do jornal O Estado de S. Paulo revelou que a mulher do chefe do Comando Vermelho no Amazonas foi recebida duas vezes na sede do ministério por dois secretários e dois assessores de Flávio Dino.
É coisa que não tem desculpa. Como uma dirigente de organização criminosa (a visitante, aliás, está condenada a 10 anos de cadeia, como a gerente financeira do grupo) poderia circular livremente pelos gabinetes do Ministério da Justiça? Ao invés de pedir desculpas e de tomar alguma providência, o governo Lula declarou guerra aos fatos. Apresentou-se como vítima dos “fascistas” e de fake news.
O que fica de indiscutível nessa história é o miserável fracasso do Ministério da Justiça no combate ao crime organizado
Lula soltou um irado manifesto de apoio a Dino, que, segundo ele, sofreu “acusações absurdas” e “ataques artificialmente plantados”. É falso. A reportagem não diz que o ministro recebeu a “Dama do Tráfico”; informa que quatro de seus funcionários receberam. Não se acusou ninguém e não se “plantou” nada; absurda, na verdade, é a declaração do presidente. O ministro dos Direitos Humanos, flagrado pagando diárias para a gerente do CV ir à Brasília, afirmou que os responsáveis pela divulgação dos fatos são “próceres do fascismo à brasileira”. Quem é “prócer do fascismo”? O jornal? O ministro não diz.
O que fica de indiscutível nessa história é o miserável fracasso do Ministério da Justiça no combate ao crime organizado. Após quase um ano, tudo que o governo tem para apresentar são as visitas da “Dama do Tráfico”. O resto é pura fumaça. O ministro anuncia milhões e bilhões para a polícia. Acha que falando de verbas, mostra para o público que o problema está resolvido – mas resultado, mesmo, não houve nenhum até agora.
A atuação do Ministério da Justiça na segurança pública é uma ficção. O ministro, pouco depois de assumir seu cargo, fez uma visita a uma favela do Rio de Janeiro que sabidamente é governada pelo crime. Está perpetuamente atrás dos clubes de tiro ao alvo – segundo ele um fator essencial da criminalidade. Faz solenidades em série para anunciar planos e campanhas. Fica contra a polícia onde a oposição governa. Propõe “políticas de desencarceramento”. Não foi capaz de apresentar um único projeto de combate ao crime. Por fim, vê assessores enrolados com a “Dama do Tráfico” – e a sua única reação é denunciar “a direita”. É mais um passo na construção de um país pró-crime.