Tem propósito, pelas regras de qualquer ordenamento legal conhecido, que uma ministra do STF envolva a mais alta Corte numa miserável rixa de aeroporto? A ministra ainda tomou partido no bate-boca – mandou a Polícia Federal, que funciona cada vez mais como guarda de segurança privada do atual regime, apreender computadores, confiscar celulares e vasculhar o carro de uma das partes envolvidas, que já foi condenada antes mesmo de prestar depoimento.
É um abuso grosseiro e escancarado, como podem atestar dezenas de juristas
Enfim: como uma briguinha de sala VIP, e ainda por cima fora do Brasil, pode ser tratada pelo governo Lula como “um atentado contra o Estado de direito”? O presidente, sem que tenha havido qualquer decisão judicial no caso, chamou os acusados de “selvagens”, e exigiu que eles sejam “extirpados”. O seu ministro da Justiça foi na mesma linha de linchamento. Isso não é rigor na aplicação da lei. É fanatismo.
O entrevero do ministro Alexandre de Moraes no aeroporto de Roma, num tumulto em que os lados apresentam versões opostas, é uma mixaria. Se o próprio ministro, que há quatro anos não faz outra coisa que não seja prender, multar e punir, no seu inquérito perpétuo para salvar a “democracia”, deu a entender que houve apenas um caso de injúria, como se explica que a ministra Rosa e a polícia saiam por aí invadindo a casa dos cidadãos? É um abuso grosseiro e escancarado, como podem atestar dezenas de juristas. A PF, além disso, age como se fosse a parte ofendida e não como um instrumento imparcial para se manter a ordem. É o resultado da soma de extremismo político e da prática sistemática da ilegalidade dos que mandam hoje no Brasil.
Há que se considerar, além de tudo isso, a própria viagem de Alexandre de Moraes à Itália. O ministro, como foi noticiado, estava lá para participar de um evento na Universidade de Siena. Só que não foi a Universidade de Siena que o convidou. Foi uma faculdade particular de Direito de Goiânia, que pertence a um grupo empresarial dedicado a negócios variados, da venda de refrigerantes ao aluguel de carros. Tem, também, um laboratório farmacêutico, que fabrica ivermectina, “o remédio do Bolsonaro”, que deixou a esquerda brasileira enlouquecida; faturou R$ 500 milhões com a venda da substância durante a covid.
Esse laboratório acaba de ser condenado a pagar uma multa de R$ 55 milhões por dar apoio a médicos que defendiam o uso da ivermectina como tratamento alternativo para a covid. Vai recorrer da sentença, é óbvio. E aí? Está certo para um ministro do STF (ele e a família) aceitar convites desse tipo? E se o caso chegar ao Supremo? É o Brasil que temos no momento.