Poeira.
É o que aproxima o Brasil de Marte nos últimos dias, uma comparação que tomou conta dos grupos de WhatsApp e redes sociais. A paisagem "marciana" de Porto Alegre, com o céu cinzento e o Sol bem cor de laranja, chama atenção a cada amanhecer e pôr do sol nos últimos dias.
Mas a verdade é que a atmosfera de Marte tem quase nada em comum com a da Terra. Primeiro: o ar por lá é extremamente rarefeito, e a pressão atmosférica equivale a 1% da que temos ao nível do mar, que é pouco mais de 1 mil milibars — em Marte, entre 6 e 7 milibars, em média, o que equivale à pressão sentida a 45 quilômetros de altitude na Terra.
Além disso, é composto em 95% por dióxido de carbono (CO2), um pouco de nitrogênio (3%), além de outros gases e muita poeira suspensa. Já na Terra, temos apenas 0,04% de CO2; os principais componentes são nitrogênio (78%) e oxigênio (21%).
Outra diferença fundamental é a ausência da camada de ozônio no planeta vermelho. Isso significa que a radiação ultravioleta do Sol (e de outras fontes) atinge em cheio a superfície marciana, e seria letal para qualquer ser vivo.
As nuvens em Marte são feitas de partículas de água e gás carbônico congelados. A queda de neve de CO2 já foi registrada pelo menos uma vez, pela sonda Phoenix.
A presença de muita poeira no ar é o que dá às imagens que vêm de Marte aquela textura opaca inconfundível. São partículas de, em média, 1,5 mícron de diâmetro (um mícron é um milionésimo de metro), que permanecem suspensas graças à pouca densidade e gravidade da atmosfera. Em Porto Alegre, as partículas concentradas no ar são de até 2,5 mícrons, segundo a agência suíça IQ Air, que classificou o ar da Capital como insalubre nesta terça-feira (10). Neste tamanho, elas podem ser facilmente inaladas e penetrar nos pulmões.
E por que a atmosfera marciana é assim?
Marte não tem um campo magnético. Lá não existe um núcleo ativo, como na Terra, onde uma camada de ferro liquefeito gira em torno de um núcleo interno sólido, gerando correntes que dão origem ao campo magnético.
A atividade tectônica em Marte cessou há cerca de 4 bilhões de anos. Sem isso, a atmosfera de lá fica completamente exposta ao vento solar, que, literalmente, varre a superfície.