Os policiais civis gaúchos já começaram a seguir a decisão tomada em recente assembleia da Associação de Delegados da Polícia Civil (Asdep), no sentido de não avisarem a mídia sobre operações. Alguns vão além e nem sequer falam dos resultados ou de inquéritos em andamento.
É uma pressão sobre o governador Eduardo Leite, no sentido de que sejam abertas negociações sobre salários, horas extras e carga de trabalho, que é intensa. Muitos departamentos especializados — como os que combatem homicídios, narcotráfico, roubos e crimes do colarinho branco — realizam até quatro operações por semana, o que significa madrugadas em claro e dias extenuantes.
A verdade é que a segurança pública é vitrine para Leite, talvez a área em que o governo é mais bem-sucedido. Todos lembramos como o número de homicídios e roubos de carro deu saltos exponenciais em meados da década passada. As guerras de facções estavam no auge, com cabeças cortadas e jogadas pelas ruas.
Medidas para sanear esse cenário foram tomadas ainda no governo José Ivo Sartori (MDB), mas foi na gestão Leite que iniciativas estruturais de combate ao crime organizado ganharam mais espaço, como o programa RS Seguro (que prioriza investimentos em efetivos policiais nos 23 municípios com maiores indicadores criminais e problemas sociais).
Além de canalizar agentes para esses pontos, o governo lançou mão de outras iniciativas, como cercamento eletrônico (monitoramento de tráfego de veículos por vídeo, que permite seguir carros em situação irregular). Foram incrementados também gabinetes de gestão que unem forças municipais, estaduais e municipais.
O resultado tem sido a queda nos principais indicadores de crimes, como homicídios, latrocínios e roubos de carros (embora existam esporádicas flutuações para cima, em alguns números). Cientes disso, policiais civis querem reajustes salariais, horas extras pagas em dia (reclamam que demoram a receber) e operações que não sejam tão desgastantes fisicamente.
O governador Leite fez um primeiro movimento de agrado aos policiais. Apresentou, na segunda-feira (30), proposta de alterações na carreira, que abrange também PMs e bombeiros. Serão cortados alguns cargos iniciais de agentes e delegados (com menores salários) e criados cargos dos últimos níveis de carreira (que ganham mais). O mesmo é feito na Brigada Militar e no Corpo de Bombeiros, que terão mais oficiais graduados e menos intermediários.
Os policiais consideram isso pouco e mantém a mobilização, inclusive expondo poucos dados das suas ações para a mídia. Lógico que a Secretaria da Segurança Pública (SSP) tem informado os resultados dos atos contra o crime, mas de forma numérica. Não é o mesmo que um repórter acompanhar e detalhar uma investigação — fluxo que até semana passada era usual, mas que foi interrompido nesta semana. A ver como avançam as negociações.