A Associação dos Delegados de Polícia do Rio Grande do Sul (Asdep) decidiu, em assembleia realizada na sexta-feira (27), parar de dar entrevistas e divulgar detalhes à imprensa sobre operações policiais e número de prisões. Segundo o presidente da entidade, delegado Guilherme Wondracek, os associados estão insatisfeitos com o fato de que o governador Eduardo Leite divulga rotineiramente os resultados da segurança pública como forma de publicidade, mas não recebe a categoria para negociar reajuste salarial. Para protestar contra a falta de diálogo, a Asdep optou por represar as informações.
A entidade afirma que, desde 31 de julho, quando Wondracek assumiu a presidência, foram enviados três ofícios solicitando audiência com o governo do Rio Grande do Sul para tratar do reajuste. Todos ficaram sem resposta.
— Isso desagrada a categoria. Nós reduzimos drasticamente os índices de criminalidade, mês a mês, temos cerca de quatro operações de grande porte por semana, até agosto tínhamos quase 10 mil presos. E o governo reconhece isso fazendo propaganda para si, mas não valoriza a categoria. O governador a toda hora se manifesta publicamente, vai ao Instagram e usa esses dados para falar da redução de criminalidade. Agora não vai mais poder usar, vamos tumultuar um pouco isso — afirma Wondracek
A assembleia de sexta-feira contou com a participação de 200 dos cerca de 500 delegados em atividade que são membros da entidade. Na ocasião, também ficou decidido que o associado que não cumprir com a medida pode ser advertido e ter seus direitos suspensos.
— A população não vai estar desassistida, a polícia vai seguir trabalhando, prendendo, fazendo inquéritos e atendendo as delegacias. Mas nós não vamos dar entrevistas, não vamos passar dados nem conversar previamente com a imprensa a respeito de operações para que ela possa acompanhar — afirma o delegado Guilherme Wondracek, presidente da Asdep.
A reivindicação da categoria é a respeito do tempo sem reajuste salarial — a Asdep considera que isto não ocorre desde 2013. O catalizador que trouxe à tona o atual protesto é o fato de que a segurança pública ficou de fora do reajuste de 12,36% que foi aprovado esta semana para servidores vinculados ao Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJ-RS), Tribunal de Contas do Estado (TCE-RS), Tribunal de Justiça Militar (TJM), Ministério Público (MP-RS), Defensoria Pública do Estado e Assembleia Legislativa.
— No ano passado, nós tivemos uma reposição de 6%, mas não reconhecemos como aumento pois não cobriu sequer as perdas inflacionárias de 2022. Portanto, estamos há quase 10 anos sem aumento. Muito se fala da “escassez de recursos”, mas essa escassez é seletiva, pois outras categorias tiveram aumento, enquanto que a segurança pública fica esquecida — afirma Wondracek.
A Asdep demanda que o reajuste seja de pelo menos 12%, igualando-se ao que foi oferecido a outros órgãos públicos.
— O que queremos é sentar com o governo e conversar para termos uma previsibilidade. Nós não queremos muito em pouco tempo, o que queremos é uma previsão “X% neste ano, Y% no outro ano”, mas o governo não nos recebe — diz o presidente da entidade.
Contraponto
Em nota, a Polícia Civil informou que "respeita a manifestação da Associação dos Delegados de Polícia do RS (Asdep), assegurando, contudo, o direito dos cidadãos à informação sobre suas ações, já que atividades de uma instituição de Estado, não será prejudicado. A Comunicação da Polícia Civil seguirá à disposição da imprensa para divulgar informações sobre os fatos criminais e os trabalhos realizados, os quais têm resultado na redução constante da criminalidade em todo o Estado, no âmbito da estratégia traçada pelo programa RS Seguro. A chefia da instituição, bem como a gestão da Secretaria da Segurança Pública, reforça a disposição para o diálogo permanente com a categoria."
Outras demandas
Além de restringir as entrevistas e a divulgação de dados acerca do trabalho da Polícia Civil, delegados da Asdep também estão adotando uma outra medida, a de só fazer deslocamentos para outras cidades (para realizar prisões e outras diligências) mediante pagamento antecipado das diárias. A queixa é que atualmente o pagamento das diárias chega a demorar um mês para ocorrer.
— É muito comum o servidor sair e ter que custear seu hotel e refeições e depois ter que ficar esperando pela boa-vontade do Estado. Então deslocamento agora só com diárias antecipadas — conclui Wondracek.