Existe um consenso entre os sete especialistas em geopolítica ouvidos por GZH nos últimos dias: o ataque terrorista praticado pelo grupo muçulmano palestino Hamas, que matou centenas de civis israelenses no último fim de semana, teve como grande objetivo impedir alianças de Israel com seus vizinhos árabes. As que já existem e as que ainda estão por ser firmadas.
É que o Hamas enxerga nos acordos com países árabes um enfraquecimento da causa palestina, agravado pelo fato de a organização se negar a reconhecer a existência de Israel. O temor do grupo extremista é o isolamento político e que as alianças israelenses com os árabes propiciem a consolidação de colônias israelenses em territórios reivindicados pelos palestinos — tanto na Faixa de Gaza como na Cisjordânia. O primeiro-ministro de Israel, Benjamim Netanyahu, ampliou a presença de assentamentos judaicos em áreas que os palestinos consideram suas, o que resulta em tensão permanente, escaramuças esporádicas e, agora, na ação terrorista indiscriminada por parte de radicais muçulmanos.
Todos os países vizinhos a Israel, a maioria com governos muçulmanos, defendem que a Palestina vire um país. Confira a posição geopolítica de cada um no contexto do atual conflito.
Status da relação de países próximos com Israel
Relações normalizadas
Egito e Jordânia - outrora inimigos de Israel, com quem travaram três guerras, egípcios e jordanianos fizeram acordos de paz com os israelenses em 1994. Hoje os três mantém relações comerciais e diplomáticas. A Jordânia exporta energia elétrica para Israel e, em contrapartida, recebe água dessalinizada. Centenas de milhares de palestinos vivem hoje nos territórios jordaniano e, em menor intensidade, egípcio.
Bahrein, Marrocos e Sudão - esses países, dois deles na África muçulmana e um na Península Arábica, firmaram em 2020 os Acordos de Abraão, pelo qual todos reconhecem Israel como um país. Os tratados foram mediados pelos EUA. Em troca, os sudaneses tiveram abolido seu status de "governo patrocinador do terrorismo", que vigorou por décadas, enquanto o Marrocos teve reconhecida sua soberania sobre o território do Saara Ocidental. Em relação a Bahrein, os avanços se deram mais no plano comercial.
Em negociações
Arábia Saudita, Omã, Abu Dhabi, Dubai e Catar - países da Península Arábica, eles condicionam a normalização das relações com Israel a uma solução, por parte do governo israelense, da questão palestina. Incluindo um território que vire país. Mesmo assim, vêm se aproximando de Israel, mediante negociação patrocinada pelos EUA. Inclusive ministros de Omã se reuniram com o primeiro-ministro israelense, Benjamim Netanyahu, recentemente.
Em 2022, por conta da Copa do Mundo, Catar restabeleceu voos diretos com Israel e, agora, participa de negociações entre o governo israelense e os palestinos para uma possível troca de prisioneiros. Os israelenses possuem uma missão diplomática junto à Agência de Energia de Abu Dhabi e participaram de uma exposição comercial em Dubai.
Relações tensas
Cisjordânia - é um dos dois territórios palestinos encravados em meio a Israel. É administrado pela Autoridade Nacional Palestina (ANP), cujo principal grupo armado, a Fatah (que não é um grupo religioso), se comprometeu a não apoiar atos terroristas contra os israelenses após os Acordos de Oslo, na década de 90. Desde então há diálogo, por vezes interrompido, entre a ANP e os governos israelenses. O maior foco de tensão é a expansão de colônias judaicas para áreas que os palestinos consideram seu território. As Nações Unidas reconhecem a ANP como legítima representante dos palestinos. A ANP é rival política do Hamas, grupo muçulmano que cometeu os atentados terroristas contra israelenses no último fim de semana.
Líbano - com governança historicamente dividida entre cristãos e muçulmanos, o Líbano foi um dos países que atacou Israel quando esse país foi fundado, em 1948. Desde então, formalmente, suas Forças Armadas não se envolveram em combates contra os israelenses. Em contrapartida, diversas milícias muçulmanas libanesas, tanto xiitas quanto sunitas, combateram os israelenses, sobretudo em períodos em que o exército de Israel ocupou parte do território do Líbano. Um dos maiores oponentes de Israel é a guerrilha xiita libanesa Hezbollah, patrocinada pelo Irã. Já entre os libaneses cristãos predomina a predisposição de se aliar aos israelenses.
Líbia - os líbios também participaram de diversos grupos que praticaram atos terroristas contra Israel, sobretudo na época em que a Líbia era governada pelo ditador Muammar Kadaffi. Desde a morte dele, em 2011, a Líbia possui dois governos. Nenhum deles é próximo a Israel, mas tampouco se envolveram em atos contra israelenses.
Hostis
Faixa de Gaza - é outro território palestino encravado em meio a Israel. É administrado pelo partido muçulmano Hamas, que nega a existência de Israel e seguidamente pratica atos terroristas contra judeus. Vários dos líderes do grupo foram mortos ou aprisionados por décadas em prisões israelenses.
Síria - é inimigo histórico de Israel, desde a fundação deste país, em 1948. Participou de todas as quatro guerras abertas contra os israelenses. É também uma das patrocinadoras da guerrilha libanesa xiita Hezbollah, que ajudou os sírios na guerra contra os terroristas do Estado Islâmico. Esta semana aviões israelenses bombardearam o principal aeroporto sírio, sob alegação de impedir carregamentos de armas para o Hezbollah.
Irã - aliado histórico da Síria, é governado por religiosos xiitas, que não reconhecem o direito de Israel ser um país. É o principal patrocinador da guerrilha xiita libanesa Hezbollah e também da guerrilha sunita palestina Hamas. Em represália, os israelenses já bombardearam diversas vezes e destruíram centrais nucleares iranianas, além de terem eliminado cientistas e militares iranianos.
Iraque - no passado participou das guerras contra Israel e jamais normalizou sua relação com aquele país. Em 1991, em retaliação contra bombardeios sofridos pelos EUA, o Iraque lançou centenas de mísseis contra território israelense. Hoje o Iraque é governado por xiitas, aliados do Irã, o mais poderoso inimigo de Israel. Não há notícia de combates diretos entre iraquianos e israelenses, nos tempos atuais.