Em 3 de abril de 2019 eu publiquei em GZH um artigo intitulado "Manter o horário de verão é uma questão de segurança pública". Começava com um apelo ao então presidente Jair Bolsonaro (PL), que estava no início de governo. Escrevi:
— Torço para que um raio de sol ilumine as ideias do presidente e ele volte atrás nas suas convicções. No passado ele se mostrou contrário à medida, por considerar pífia a economia de energia conquistada.
Bolsonaro deixou o Palácio do Planalto, no lugar dele entrou Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e agora faço o mesmo apelo: presidente, retome o horário de verão.
Sei que meu pedido pode ter chegado tarde. O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, diz que por ele o horário de verão não será retomado.
— Nós estamos com nossos reservatórios no melhor momento dos últimos 10 anos — justifica.
Só que não é apenas uma questão de energia, ministro. É questão de segurança pública. Todo predador de emboscada prefere a escuridão e, nessa categoria, podemos incluir os assaltantes. É na escuridão que a surpresa se faz mais eficaz, para desgraça das vítimas.
Sou comentarista de segurança na RBS há exatos 17 anos. Por convivência com o tema, sei bem que criminosos violentos agem mais à noite (isso está medido em estatísticas). Não só no Brasil, no mundo. O horário de verão prolonga as horas de luminosidade e, com isso, a segurança de quem está fora de casa. Na Colômbia, Bogotá e Medellín tiveram redução enorme na criminalidade quando adotaram programas eficazes de iluminação pública. Praças e parques ganharam poderosos holofotes a iluminar as quadras esportivas.
O mesmo pode ser dito da orla do Guaíba, em Porto Alegre. Com exceções, a criminalidade na região diminuiu. Esportes são praticados noite afora, com auxílio da iluminação.
Mas e onde não existe iluminação pública à contento? O sol é um poderoso aliado. E por isso seria maravilhoso contar com ele por algumas horas a mais, pelo menos durante o verão.
Na época em que escrevi o apelo a Bolsonaro, fui criticado por seus eleitores, sob o argumento de que eu não penso nos trabalhadores que terão de sair cedo de casa, ainda escuro. Penso, só que o horário de verão não implica em sair na escuridão, de manhã. O sol também desponta mais cedo nessa época do ano. E se põe mais tarde. No meu entender, quanto mais tarde, melhor.
E não é apenas para usufruir dos chopes cremosos na Orla (como insinuam meus detratores). É por segurança, mesmo. Mas é óbvio que um dos efeitos colaterais benéficos do horário de verão é o comércio aberto mais tarde, com injeção de ânimo e perspectivas na economia. Por que não? Esqueçam a questão de poupar energia. Ela é secundária nesse debate. O que importa, no meu entender, é que quanto mais luz, menos crimes.