O jornal Folha de S.Paulo deu origem a uma grande polêmica ao reproduzir, dias atrás, expressões usadas pelo atual comandante do Exército, general Tomás Miné Ribeiro Paiva, sobre o resultado das eleições. As falas foram gravadas e vazadas, agora, por inimigos do chefe da mais poderosa força armada do país.
Logo após o pleito, quando ainda era comandante militar da região Sudeste, Tomás (como é conhecido nos quartéis) fez um discurso a subordinados:
— A vitória de Lula foi indesejada no Exército e infelizmente ocorreu. Mas não houve fraude, o resultado precisa ser acatado, as mesmas urnas escolheram um Congresso conservador — teria comentado o general.
Lula não sabia disso quando seu ministro da Defesa escolheu Tomás Paiva para chefiar o Exército. A Folha soube da fala e optou por dar, em manchete, que o general lamentou a vitória do petista nas eleições presidenciais - isso, após ele ser ungido no comando das forças militares terrestres.
A reportagem criou um constrangimento enorme no governo e levou grande parte do staff presidencial a desconfiar do novo comandante.
Acontece que a fala destacada pelo jornal é apenas parte do que Tomás falou. Primeiro, é preciso ressaltar a conjuntura: ele se pronunciou justo para acalmar os ânimos e estimular seus pares a reconhecerem o resultado do pleito. Em segundo lugar, é direito de Tomás, numa conversa privada, lamentar o resultado de uma eleição. Não poderia fazer isso em público, pois os regulamentos do Exército o proíbem, e não o fez. Terceiro: mesmo que tenha votado em Jair Bolsonaro, adversário de Lula (como a maioria dos militares, podem apostar), o general descartou fraude e aconselhou, para o bem do país, que o veredito das urnas fosse acatado.
O cenário, na época da fala dele, era caótico no país. Milhares de adeptos do ex-presidente se recusavam a aceitar que Lula (PT) fosse empossado na Presidência. Cercaram quartéis das Forças Armadas e pediam golpe de Estado, sem meias palavras. Mais do que isso: chamavam de "frouxos" os militares que não estavam dispostos a intervir para manter o bolsonarismo no poder, rompendo assim com a democracia no país.
Na hora certa, Paiva soube se mostrar democrata. Não só ele. Vários generais do Alto Comando se posicionaram contra qualquer ruptura institucional. E não foram poucos apelos que eles ouviram, no sentido de prender ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), intervir no Congresso e devolver Lula à prisão.
Seria aconselhável que o exemplo de cidadania demonstrado pelo general Tomás fosse mais destacado do que sua fala a respeito de um candidato. É direito dele (e de qualquer um) não gostar de um político. É dever dele (e de todos) respeitar a eleição de alguém, seja do nosso agrado ou não. Isso é ser democrata. Afinal, como bem definiu o estadista britânico Winston Churchill, "a democracia é o pior dos regimes, à exceção de todos os outros".