Muita gente estranhou que Paulo Ricardo Santos da Silva não figura entre os 23 detentos gaúchos transferidos nos últimos dois dias para prisões de maior segurança. Conhecido como Paulão da Conceição, é um dos presidiários mais antigos e conhecidos do Rio Grande do Sul. Aos 63 anos, estava em prisão domiciliar humanitária, esperando cirurgia cardíaca, quando foi preso por agentes do Departamento Estadual do Narcotráfico (Denarc) na semana passada.
A prisão dele foi decretada pela Justiça por suspeita de que continue a gerenciar o tráfico na Vila Maria da Conceição e arredores, em Porto Alegre. Desde 1982 Paulão entra e sai da cadeia. Possivelmente, passou mais tempo preso do que solto nesse período. Chegou a ser preso no Rio de Janeiro, em uma ocasião, também pelo Denarc. Cumpre sentença de 28 anos de prisão, por homicídio.
A prisão da semana passada está embasada em investigações que apontam Paulão como envolvido na compra de drogas e armas, inclusive granadas, embora esteja monitorado por tornozeleira eletrônica. Deveria voltar para a Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc), de onde saiu em fevereiro para sua casa? Policiais civis ouvidos pela coluna divergem.
Alguns dizem que Paulão, agora protegido pela facção mais poderosa de Porto Alegre, os Bala na Cara — fica com eles dentro da prisão —, exerce ação nefasta fora da cadeia. Há suspeita de que tenha influenciado nas ondas de homicídios que abalam a capital gaúcha, a maior sequência de assassinatos dos últimos cinco anos. E tenha intermediado uma tentativa de acordo de paz entre duas facções adversárias.
Já outros policiais civis asseguram que não há provas de envolvimento de Paulão nos homicídios.
— Paulão é que nem o Melara (Dilonei Melara, fundador de uma facção de assaltantes dos anos 1980). Depois de um tempo, só sobrou o nome. Não tem força nenhuma no mundo do crime, recebe apenas alguma consideração de parte da bandidagem — pondera uma fonte da Polícia Civil.
Essa versão será submetida ao colegiado de juízes da Vara de Execuções Criminais de Porto Alegre, que até agora oprou por manter Paulão numa prisão comum. Não foi expurgado para fora do Estado, nem para a Pasc. Seu advogado tenta um habeas corpus para libertá-lo, por questões de saúde.