Leitores questionam que fim levou um dos mais rumorosos casos de promessas não cumpridas registrado no Rio Grande do Sul. É o da empreiteira Báril, que vendeu mas não concluiu 585 imóveis no Litoral Norte. A crise financeira que levou a construtora a não saldar débitos e deixar milhares de pessoas sem os apartamentos prometidos foi tema de reportagem do Grupo de Investigação da RBS (GDI).
A inadimplência na entrega de imóveis por parte da Báril começou em 2015. A construção da maioria deles, 505, ocorreria nos residenciais Lagune (Tramandaí) e Costero La Barra (Xangri-lá), mas sequer teve início. Os demais apartamentos e casas, no Las Olas (Imbé) e no Páteo Marbella (Xangri-lá), chegaram a sair do chão, mas as obras pararam antes de serem entregues.
O caso está judicializado, tanto na esfera cível como na criminal. Na 16ª Vara Cível de Porto Alegre tramita ação civil pública com pedido para que os donos da Báril indenizem por danos morais e materiais os compradores das centenas de imóveis não entregues. Outras centenas de ações, também com pedido de indenização, são movidas individualmente por pessoas que pagaram o imóvel e não receberam. Os donos da empresa estão com bens indisponibilizados e contas bancárias bloqueadas. A estimativa é de que a Báril e um leque de 10 empresas às quais ela está ligada (todas tendo como sócios membros da família Báril) devam R$ 30 milhões para compradores de imóveis e outros R$ 65 milhões a bancos.
Além de dívida, quatro integrantes da família Báril estão entre os sete réus de um processo criminal que tramita na 2ª Vara de Crime Organizado e Lavagem de Dinheiro de Porto Alegre. A ação é resultante da Operação Casas de Areia, desencadeada pela Polícia Civil (Delegacia de Polícia de Repressão aos Crimes de Lavagem de Dinheiro). A investigação já teve duas fases, em 2019 e 2020. Os acusados de lesar os compradores de imóveis respondem por estelionato, lavagem de dinheiro e associação criminosa. Conforme interpretação da polícia, os donos da Báril teriam continuado a vender casas mesmo depois de saberem que não teriam condições de entregá-las. Além disso, teriam repassado bens móveis e imóveis para familiares e prepostos, na tentativa de ocultar patrimônio. Essa ação criminal está conclusa para análise das defesas.O advogado dos integrantes da família Báril que são réus, Rafael Canterji, garante que eles não cometeram crime e jamais pensaram em enganar os clientes. Ele alega que a empresa foi vítima de uma crise que perpassou o mercado de imóveis na época das paralisações, em 2014. Muitos compradores teriam inclusive ficado inadimplentes, o que alimentou prejuízos da construtora. As dívidas não são negadas, mas elas teriam sido contraídas sem intenção ou planejamento (que configuraria crime).
Eis o cenário. Prejudicados de todos os lados acreditam que dificilmente os imóveis sairão do papel, mesmo que venham condenações, pois família que montou a construtora está sem recursos.