O caingangue Valdonês Joaquim, recém-eleito cacique da maior reserva indígena do Rio Grande do Sul (a da Guarita), foi preso ao entardecer de segunda-feira (27) em Tenente Portela. A área comandada por ele abriga cerca de 8 mil caingangues e algumas centenas de guaranis, em região próxima à fronteira com a Argentina, no noroeste gaúcho.
Valdonês cumpre pena por ter dado abrigo a uma quadrilha de assaltantes, dentro da reserva. Diálogos dos quadrilheiros falavam em cobertura dada pelo cacique, esconderijo e uso do veículo do chefe indígena para fugas.
Valdonês foi preso em novembro de 2017 e condenado a 14 anos de reclusão. Na época, ele era vereador. Ficou dois anos no regime fechado. Como já cumpriu um sexto da pena, teve direito ao regime semiaberto (saia de manhã da cadeia e voltava para pernoitar). Com a pandemia, foi concedida ao cacique a prisão domiciliar. Cumpre a pena em casa.
Nesse meio tempo, outro cacique foi eleito, Carlinhos Alfaiate. Só que Valdonês decidiu disputar a eleição para chefe da reserva, que costuma acontecer a cada quatro anos. A aposta deu certo e ele foi eleito há poucos dias, num pleito marcado por acusações de fraudes, de lado a lado.
Carlinhos não reconhece a eleição do adversário e, na prática, a reserva da Guarita está com dois caciques, o que costuma ser sinônimo de confusão. E não apenas retórica: tiroteios, incêndios criminosos e mortes fazem parte do histórico das disputas por ali.
Pois agora Valdonês foi flagrado num depósito de bebidas, o que configura, segundo a Justiça, desrespeito à prisão domiciliar. Preso, voltou a uma cela no Presídio Estadual de Três Passos. O temor na reserva é que, se o cacique eleito ficar meses na cadeia (como é o costume quando alguém viola a condicional), o vácuo de poder gere confusão. O vice eleito, Joel de Freitas, já disse que assumirá o poder. Carlinhos Alfaiate aceitará? O Rio Grande aguarda cenas dos próximos capítulos.