Dois ex-caciques da reserva da Guarita, a maior do Rio Grande do Sul, foram condenados na tarde desta quarta-feira (5) por envolvimento em assaltos a banco na região noroeste do RS, próxima à fronteira com a Argentina.
O líder caingangue Valdonês Joaquim e o pai dele, Valdir Joaquim, foram sentenciados por roubo a banco e associação ao crime. Eles teriam cedido áreas da reserva para esconderijo de ladrões de agências bancárias. A quadrilha envolvida seria responsável por dois assaltos simultâneos e violentos a duas agências bancárias em Miraguaí, com uso de reféns como escudo e queima de viatura policial. Os crimes aconteceram em 2017.
Valdonês foi condenado a 14 anos e dois meses de reclusão e Valdir, a 13 anos e 23 dias, por seis roubos qualificados e manutenção de reféns, bem como por dano qualificado pela utilização de substância inflamável e contra o patrimônio público. A pena do cacique mais jovem (Valdonês) é maior porque ele também foi sentenciado por coação de testemunha.
Os indícios contra os dois líderes caingangues foram coletados logo após o duplo roubo. As polícias Civil e Militar prenderam alguns dos envolvidos diretamente nos assaltos e eles admitiram que se escondiam na reserva. Com base na quebra de sigilo telefônico e telemático, foi comprovado que gozavam da proteção dos dois caciques, conforme a sentença judicial. Eles conversam sobre a proteção conquistada junto às lideranças indígenas.
Com ajuda de helicóptero e dicas de moradores, os policiais descobriram que a quadrilha estava morando provisoriamente em um acampamento no mato, dentro da reserva, em uma área com 23 mil hectares e que abriga mais de 6 mil indígenas. As cabanas abrigavam até estande para treino de tiro. Um veículo abandonado pelos assaltantes em fuga era de uso do cacique Valdonês Joaquim, o que agravou as suspeitas. Outros dois índios, familiares de Valdonês e Valdir, foram reconhecidos como participantes do assalto. Um deles continua foragido.
Com base em indícios materiais e testemunhas dizendo que os bandidos eram hóspedes na aldeia, quatro indígenas foram presos, entre os quais Valdonês e Valdir. Foram identificados 25 suspeitos que teriam se refugiado na reserva indígena após ataques. Treze deles foram processados. Alguns dos não-índios presos pelos roubos são suspeitos de envolvimento com facções poderosas no RS e no Brasil.
No processo, o promotor Miguel Germano Podanasche disse que Valdonês e Valdir providenciaram locais para abrigar o bando, antes e após a prática dos crimes. "Local esse onde foram apreendidos objetos atrelados aos fatos criminosos envolvendo tal associação, angariaram veículos de origem espúria para locomoção e fuga do local dos assaltos, adquiriram material para a confecção de miguelitos utilizados nos crimes posteriormente perpetrados e contrataram transporte para parte dos executores materiais dos roubos".
A sentença foi do juiz Luiz Gustavo Negro Garcia, da Vara Criminal de Tenente Portela. Os dois caciques, pai e filho, estão presos desde 2017 e já haviam requisitado passagem para regime prisional semiaberto.
Contraponto
O que diz o advogado Pablo Bulgos, defensor de Valdonês e Valdir Joaquim:
GaúchaZH não conseguiu localizar o advogado. No processo, ele alegou que os dois caingangues têm "zero participação" nos assaltos, até por terem nome a zelar, como líderes indígenas. O advogado disse também que a principal testemunha contra os caciques é uma indígena com problemas de relacionamento na Guarita e em outras reservas. A defesa dos caciques considerou a denúncia "um exagero do Ministério Público" e pretende recorrer contra a sentença.