Por que o crime organizado é assim chamado? Porque, ao contrário dos ladrões que agem por impulso e mero oportunismo, é composto de gente que faz da delinquência sua profissão. Aqueles que entraram no caminho sem volta.
É o caso dos patrões do tráfico de drogas, cuja atividade rende tanto que não conheço um que desistiu, mesmo após anos amargados na cadeia. Gerenciam a venda de entorpecentes de dentro das grades.
É também o que faz uma quadrilha de Eldorado do Sul, na Região Metropolitana. Para melhor atuar, eles organizaram escalas de “trabalho” no bando, apenas para vigiar os vigias. Ou seja, monitorar as atividades policiais, sobretudo dos PMs, como mostra reportagem do colega Cid Martins.
As escalas eram diárias, com funções determinadas, num esquema estilo militar. Tinham horários de entrada e saída e funções com hierarquia na quadrilha.
Gravações obtidas pela Polícia Civil mostram os traficantes comentando o vaivém de viaturas, o deslocamento delas. Novidade? Nem tanto. Uma vez fiz reportagem sobre uma vila na zona norte de Porto Alegre, no bairro Sarandi, onde traficantes tinham colocado câmeras em postes, para acompanhar o ingresso de estranhos.
Tanto no Rio de Janeiro como São Paulo isso é rotina nas favelas dominadas pelo crime organizado. Até para evitar promiscuidades, os comandos de batalhões e delegacias são trocados periodicamente. Mas aí entra em ação a escala dos olheiros das quadrilhas. Os vigias dos vigias.
E quem vivia os vigias dos vigias? A resposta ao título desta coluna foi dada nesta sexta-feira por policiais civis da 2ª Delegacia Regional Metropolitana. Numa grande ação, prenderam 16 pessoas envolvidas com o tráfico e vigilância das atividades policiais em Eldorado do Sul. O crime avança, mas a polícia também.