O Paraguai sempre foi encarado, nas crônicas do submundo, como refúgio idílico de bandidos. Vem de longe essa fama. Ainda no início do século XX, bandoleiros gaúchos que perderam a luta nas revoluções migravam para território paraguaio em busca de esconderijo. Um deles, o maragato Artur Arão, ganhou fama internacional, tanto na valentia como nos crimes.
O Paraguai continuou a ser buscado por notórios criminosos brasileiros nos Anos 60, 70 e 80 do século XX. Entre esses aí estavam o mais notório integrante do Esquadrão da Morte carioca, o ex-delegado Mariel Mariscott (que deu entrevista em Assunción a repórteres que o procuraram), e o contrabandista gaúcho Juca Galiano, um pioneiro do uso de aviões para tráfico, que jamais escondeu suas conexões com Ciudad del Este.
Nos anos 90 e 2000 integrantes de facções criminosas diversas, do Brasil, se esconderam no Paraguai. Uma delas, o PCC, inclusive montou redes para compra de drogas naquele país e planejamento de assaltos.
Acontece que os tempos mudaram e a bandidagem parece não ter percebido. Recebi esta semana levantamento feito pela Secretaria Nacional Antidrogas (Senad) do Paraguai. Desde 2014, esse órgão governamental realizou 179 operações conjuntas com a Polícia Federal brasileira. Não estão incluídas aí ações com as polícias civis estaduais. Nem capturas mais antigas. Fossem somadas, dariam mais de 200.
O traficante gaúcho Juraci Oliveira da Silva, o Jura do Campo da Tuca, por exemplo, foi preso em 2010 em Pedro Juan Caballero (Paraguai) após dicas recebidas da Polícia Civil do Rio Grande do Sul. Outros bandidos gaúchos foram capturados da mesma forma nos três últimos anos, como Nego Jackson (Jackson Peixoto Rodrigues) e Nego Leo (Leonardo Silva de Souza), dois expoentes da facção Anti-Bala, de Porto Alegre. Eles também moravam em Pedro Juan Caballero. Já Fabrício Santos da Silva, o Nenê (da facção Os Manos) foi preso com ajuda da PF em Ciudad del Este.
Os números da Senad não se resumem a pessoas. Conforme a secretaria, a colaboração com as polícias brasileiras resultou em mais de U$ 1 bilhão de prejuízo às quadrilhas dos dois países (U$ 6 bilhões). Nessa quota se incluem 1,8 mil acampamentos de processamento de drogas em campos ilegais de cultivo.
Ainda é cedo para comemorar, mas o certo é que algo mudou em relação ao crime no Paraguai. Para melhor.