Dois importantes generais da reserva, ex-apoiadores de Jair Bolsonaro, usaram palavras fortes para criticar o Exército por não punir o general Eduardo Pazuello – que subiu ao palanque de um ato político de apoio ao presidente, no Rio, num showmício em 23 de maio. Falaram que essa blindagem constitui “subversão” e “desmoralização” da disciplina e hierarquia que devem imperar nos quartéis.
Como se sabe, os regulamentos das Forças Armadas vetam o engajamento de militares da ativa em manifestações político-partidárias. Mesmo com essa regra clara, o comandante do Exército, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, arquivou o procedimento disciplinar aberto para investigar o comportamento de Pazuello.
Ao fazer isso, prestigiou Bolsonaro, que pressionava para que não acontecesse nenhuma punição ao ex-ministro da Saúde (que inclusive ganhou um cargo no Palácio do Planalto, no início da semana).
As palavras mais pesadas contra a desistência do Exército em punir Pazuello vieram do general gaúcho Carlos Alberto dos Santos Cruz, hoje na reserva. Ex-comandante de tropas das Nações Unidas no Haiti e no Congo, ele é provavelmente o mais conhecido militar brasileiro no Exterior.
Nas redes sociais, ele diz que a não punição “é mais um movimento coerente com a conduta do presidente da República e com seu projeto pessoal de poder”. Santos Cruz, que foi ministro da Secretaria de Governo no primeiro ano de governo de Bolsonaro, diz que o Exército não é do presidente, mas do povo brasileiro.
“O presidente procura desrespeitar, desmoralizar pessoas e enfraquecer instituições. Não se pode aceitar a SUBVERSÃO da ordem, da hierarquia e da disciplina no Exército”, resumiu o general gaúcho. Há duas semanas, Santos Cruz foi chamado de “petista” por Eduardo Bolsonaro, um dos filhos do presidente, embora tenha sido aliado do bolsonarismo na eleição em que este movimento político derrotou o PT.
Outro general da reserva que usou termos fortes ao criticar a falta de punição a Pazuello é Paulo Chagas, apoiador de primeira hora de Bolsonaro (antes de romper com o bolsonarismo) e ex-candidato a governador do Distrito Federal. “O presidente, o comandante e o general Pazuello estão contribuindo para a desmoralização e para a queda do prestígio conquistado pelo Exército Brasileiro”, tuitou ele, na tarde de quinta-feira (3).
Mas é bom ressaltar que as críticas à ausência de punição a Pazuello não são unânimes. O general da reserva Girão Monteiro, deputado federal pelo PSL do Rio Grande do Norte, considera natural que militares participem de atos de apoio ao presidente, “já que ele é o chefe supremo as Forças Armadas”. Girão afirma que Pazuello é perseguido por ter exercido função de destaque no governo.
E o que dizem estudiosos das Forças Armadas? O advogado e ex-militar Demétrius Teixeira, professor da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra-RS), que analisa questões militares, está convicto que ocorreu uma clara abertura das portas dos quartéis para a política.
— Importante lembrar que o principal argumento sustentado pelos militares para o golpe de 64 foi que o governo Jango estava permitindo a politização dos quartéis. Os próprios militares sempre falam que naquela época ocorreu grave quebra da hierarquia e disciplina — ressalta Demétrius.
Dois generais da ativa ouvidos pelo colunista não gostaram da imunidade dada a Pazuello para fazer política. E acreditam que ela afastará mais ainda as Forças Armadas de Bolsonaro.