A morte por apedrejamento está descrita na Bíblia. Era uma forma comum de punição a quem matou ou também aos que cometiam adultério. Numa cerimônia pública, os acusados pelo crime eram dilapidados – esse é o termo do uso da pedra para matar. Em alguns países da Ásia essa tradição ainda é seguida ao pé da letra. Felizmente estamos no Ocidente, onde esse tipo de costume não vingou. Ou vingou?
A gaúcha Munike Fernandes Krischke, 45 anos, foi morta com uma pedra. Não como castigo. Foi escolhida ao acaso por algum criminoso hediondo, que decidiu jogar um paralelepípedo de cima de uma das pontes do Guaíba, em Porto Alegre, sobre os carros que passam. Tudo indica que a intenção era que o veículo parasse, para que os motoristas fossem assaltados. Eu cobri esse caso no fim de semana, no meu plantão.
Munike teve o peito esmagado pelo paralelepípedo. O marido dela não parou, frustrando os assaltantes e tentando salvar a esposa. Correu até o hospital, que fez diversas cirurgias, mas não conseguiu estancar as hemorragias.
Munike estava num momento feliz. Tinha reservada uma mesa num restaurante, decorada com fotos dela e do marido, para o Dia dos Namorados. De tantas coisas nefastas nesse caso, uma das piores é saber que, além de Munike não voltar, agressões desse tipo estão longe de serem raras. Conforme apurou o colega Cid Martins, são pelo menos duas tentativas de assaltos mediante apedrejamento a veículos, na freeway, POR SEMANA.
Uma vez cobri um desses casos. Um verdureiro de meia idade ia com uma Kombi comprar legumes na Ceasa quando teve a van apedrejada, próximo a onde hoje está situada a Arena do Grêmio. Parou. Foi cercado por ladrões. Discutiu com eles e foi esfaqueado até a morte.
Sei que as autoridades tentam capturar os responsáveis pela morte de Munike, mas é preciso mais. Que os parapeitos das pontes sejam telados. Que câmeras mostrem os suspeitos que rondam pela região. Que as patrulhas sejam intensificadas, inclusive com carros discretos. Não é tolerável que, em pleno século XXI e no Brasil, o apedrejamento ainda seja uma forma de morte.