O mais conhecido empresário da jogatina no Rio Grande do Sul, João Carlos Franco Cunha, o Jonca, foi assassinado no sábado. Justo no meu plantão de fim de semana. Era um ícone na contravenção: bicheiro assumido, foi presidente do Clube dos 13 ou Clube da Sorte, que durante décadas reuniu os maiores banqueiros do bicho da Região Metropolitana. Era dono de bingos e lotéricas.
O assassino esperava a vítima, ao que tudo indica. Chegou a pé, aguardou a sinaleira ficar no vermelho e deu dois tiros de revólver na cabeça de Jonca. Saiu correndo. A correria do matador foi filmada. É um sujeito moreno, de boné e colete luminoso (tipo os usados por guardadores de carro).
Chama a atenção o uso do revólver. Parece coisa de amador, mas pode ser tática profissional. Mata igual e, ao contrário da pistola, o tiro de revólver não ejeta as cápsulas. Talvez o homicida tenha tentado evitar que os cartuchos caíssem e fornecessem pistas aos policiais.
A morte de Jonca é um desafio e tanto para o Departamento de Homicídios da Polícia Civil. Não bastassem os assassinatos cotidianos praticados pelas facções do tráfico, agora surge um morto ilustre oriundo da jogatina. As hipóteses mais fortes são duas. A principal, de que seja um acerto de contas interno entre bicheiros. João Carlos foi sócio do bingo Roma, perto de onde foi assassinado. É preciso recordar que dois outros dirigentes desse bingo, Marcus Assmuss e Eduardo Mesquita Bilbau, foram assassinados também, de 2015 para cá. Ambos, nas proximidades de onde Jonca foi morto agora.
A outra probabilidade é que alguma das facções do tráfico tenha eliminado o dono de bingos. Os traficantes têm avançado sobre pontos do bicho e sobre a jogatina em geral, principalmente no Interior. Querem o dinheiro da contravenção. Em Pelotas a casa de um bicheiro foi atingida por uma saraivada de tiros. Apontadores do bicho foram espancados nas Missões. Caso seja isso, a tarefa da Polícia ficará tão ou mais complicada. Óbvio que nunca está descartado que seja algo passional, mas nada no currículo da vítima indica isso. Boa sorte aos policiais. E que se faça justiça às famílias dos mortos.