Os moradores da Região Metropolitana despertaram na quarta-feira (14) sob impacto de uma onda de ataques a lojas, revendas de carros, bancos, prédios comerciais e residenciais. Os edifícios tiveram vidraças e janelas quebradas, de forma espantosa, em sequência.
Foram atingidos pelo menos 60 locais diferentes e não se descarta que sejam mais, pois algumas vítimas ainda podem não ter apresentado queixa.
Poderia ser um ato de protesto, alguma manifestação política, uma revolta contra o sistema. Nada disso. Em 24 horas, uma investigação fulminante e eficaz da Polícia Civil desvendou a sequência de crimes.
Foram 14 delegacias unidas nas buscas, iniciadas pelo delegado Alexandre Vieira. A partir do videomonitoramento de veículos, os policiais chegaram aos autores, o filho do dono de uma transportadora e um empregado da empresa. Fizeram isso por diversão, como eles mesmo admitem, mas de forma planejada e sistemática. Até roteiro elaboraram antes de vandalizar.
Por serem delitos de baixo poder ofensivo, é provável que sequer sejam condenados – podem pedir uma transação penal, suspensão do processo, essas prerrogativas que fazem a delícia dos advogados no Brasil. E causam furor na comunidade.
Fosse nos Estados Unidos, a cadeia seria certa. Na Rússia ou na China, os desordeiros teriam grandes chances de serem exibidos em jaulas gradeadas, durante o julgamento, sem contar risco de anos de prisão.
Para ficar nos EUA: foi lá que surgiu, a propósito, a “Teoria das janelas quebradas”. Suas bases teóricas foram estabelecidas em Chicago por James Wilson e George Kelling, dois estudiosos de leis e comportamento humano. Ela se embasa na ideia de que, se uma janela de um edifício for quebrada e não receber logo reparo, a tendência é que passem a jogar pedras nas outras janelas, e posteriormente passem a ocupar o edifício e destruí-lo. Por isso é necessário coibir o primeiro delito, antes que outros, mais graves, derivem dele.
A aplicação prática da “Teoria das Janelas Quebradas” ganhou impulso em meados dos anos 1990 pelo chefe de Polícia de Nova York, William Bratton. Ele incentivou ações policiais duras para combater criminosos e suspeitos. Com endurecimento de leis e reforço no policiamento, pequenos delitos, como o vandalismo, passaram a ser punidos com prisão. As estatísticas mostraram que o número de crimes começou a cair – embora sempre exista quem conteste que seja consequência da maior rigidez penal.
Desde então, no mundo, os Estados Unidos passaram a ser conhecidos pela tolerância zero. Talvez não seja possível repicar seu exemplo mundo afora, as culturas são diferentes. Mas bem que o Brasil poderia deixar de ser o país da tolerância extrema. Um pouco de punição a quem comete crimes “por diversão” seria bem vinda.