Alguém tem ideia do tormento por que passam pais e mães quando um filho some, sem deixar explicações? Um homem, o jornalista Plínio Nunes, conhecia muito bem essa dor. Foi a ele que famílias recorreram, décadas a fio, quando crianças e adolescentes desapareciam.
Plínio foi meu colega em Zero Hora, um dos mais conhecidos jornalistas da cobertura criminal do Rio Grande do Sul. Começou na antiga Caldas Junior, depois veio para a RBS, culminou sua trajetória no Correio do Povo. Todos os dias cavava nas páginas do jornal (fez isso, depois, no Diário Gaúcho) um espacinho para noticiar o drama dos desaparecimentos. Arrisco a dizer que noticiou milhares. Atendia com paciência o telefone, uma tolerância que por vezes falta aos jornalistas quando o caso não é glamoroso o suficiente para render capa ou mesmo abertura de página.
Plínio lembrava dos casos. Já a recíproca nem sempre ocorria. O lado triste de tudo isso é que muitas famílias esquecem de ligar para dizer que os seus desaparecidos voltaram. É comum que adolescentes resolvam viver suas aventuras e, depois de algumas bordoadas da vida, retornem ao aconchego do lar. Plínio encarava essa desconsideração dos parentes do sumido numa boa. Sabia que o ser humano é bicho estranho.
Plínio morreu em 26 de janeiro, aos 66 anos. Foi daqueles sujeitos dos quais é impossível lembrar uma mácula, seja como pessoa, seja como profissional.
Lembro de tudo isso ao saber da criação da Delegacia de Polícia de Investigação de Pessoas Desaparecidas, a primeira do Estado especializada nesse tipo de apuração. Já existiam seções de desaparecidos nas Delegacias de Homicídios. Agora, esse tipo de situação, um drama sem fim para as famílias, ganha o status merecido. Não é o tipo de serviço que encabeça o noticiário policial. Nem por isso é menos nobre do que a perseguição aos criminosos, atividade-mor dos agentes.