O último a ser preso no Rio apaga a luz, costumam dizer os cariocas, do alto de sua bem-humorada autocrítica — e sua dor. O Estado-vitrine do Brasil é, também, aquele que mais mistura noticiário político e policial. O mais recente capítulo desse drama se desenrola nesta terça-feira (22), com a prisão do prefeito Marcelo Crivella (Republicanos), bispo licenciado da Igreja Universal.
Crivella, que tentou se reeleger e perdeu em novembro para Eduardo Paes (Dem), é apontado em investigações como o beneficiário maior do “QG da Propina”. Esse é o apelido de um esquema montado por empresas interessadas em vencer licitações da prefeitura carioca e cuja triangulação envolveria doleiros, um ex-senador e um delegado de polícia.
Nada que espante muito os cariocas, acostumados a ver seus governantes atrás das grades. Dos últimos seis governadores do Rio, cinco foram presos (lista abaixo). O sexto, Wilson Witzel (ex-juiz), é investigado em pelo menos três processos criminais e foi afastado do cargo pela Justiça.
Confira a lista:
Anthony Garotinho (governador entre 1999 e 2002): foi preso cinco vezes desde que saiu do cargo. É acusado por crimes de corrupção, concussão, participação em organização criminosa e falsidade na prestação das contas eleitorais. Está em liberdade.
Rosinha Garotinho (governadora entre 2003 e 2006): foi presa em novembro de 2017, junto com o marido, Anthony, por crimes eleitorais. Ficou presa por uma semana. Foi condenada em janeiro de 2020. Recorre contra a sentença, em liberdade.
Sérgio Cabral (governador entre 2007 a 2014): foi preso em junho de 2017, está condenado em 11 ações penais daLava-Jato e tem pena total de 233 anos e 11 meses de prisão. Cumpre pena no Complexo Penitenciário de Gericinó, na zona oeste da cidade do Rio de Janeiro.
Luiz Fernando Pezão (governador entre 2014 a 2018): foi preso em novembro de 2018 e condenado por abuso de poder político e econômico por conceder benefícios financeiros a empresas como contrapartida a doações para a campanha eleitoral de 2014. Está solto.
Moreira Franco (governador entre 1987 a 1991): foi preso em março de 2019, pela operaçãoLava-Jato, sob acusação de negociar o pagamento de propina de R$ 1 milhão. Teria recebido valores da Engevix para beneficiar a construtora em contratos da usina nuclear Angra 3. Permaneceu por quatro noites na cadeia. Responde ao processo em liberdade.
Em âmbito municipal, o prefeito eleito, Eduardo Paes, sofreu buscas e apreensões recentemente, é réu por crimes eleitorais, mas nunca foi preso.
Como se vê, o Rio não é para principiantes.