A cada vez mais forte convicção de que o Primeiro Comando da Capital (PCC) organizou o roubo milionário em Criciúma (SC), terça-feira (1º), preocupa policiais gaúchos. Afinal, quase todos os criminosos envolvidos no assalto buscaram refúgio no Rio Grande do Sul. Eram todos oriundos de São Paulo, forte indício de envolvimento com a facção, que é paulista na origem. Parece questão de tempo para que uma ação desse porte seja tentada em território gaúcho.
Inclusive um gerente do PCC, Márcio Geraldo Alves Ferreira, o Buda (com antecedentes por tráfico e homicídio), foi preso em Gramado (RS) em decorrência das investigações sobre o assalto em Criciúma.O que ele fazia ali, além de se esconder? É o segundo “torre” (líder) da facção preso na serra gaúcha em três meses. O outro é Alex Chervenhak, o Jota, é apontado como o responsável por um laboratório itinerante de cocaína, fato pelo qual já esteve preso em 2007. Em 2013, ele teria sido um dos responsáveis pela morte do policial federal Fábio Ricardo Paiva Luciano, atingido por um tiro de fuzil em Bocaina (SP). Morava numa mansão.
A expansão da facção paulista tem sido dificultada porque o Rio Grande do Sul já tem três grandes facções (fora outras menores): Os Manos, os Bala na Cara e Os Abertos. Mas os líderes do PCC já montaram uma joint-venture com Os Manos: usam os mesmos fornecedores de drogas e armas e, quando alguém de uma facção vai preso fora do seu território, busca abrigo com a outra. Foi assim que alguns bandidos gaúchos conseguiram proteção no Paraguai (onde o PCC é dominante). Foi assim, também, que o Ministério Público paulista contabilizou 729 simpatizantes do PCC no Rio Grande do Sul, em 2018. Podem ser mais agora, se a simbiose com a outra facção gaúcha se manteve. Isso é pouco no universo de milhares de bandidos gaúchos, mas mostra presença.
Uma presença que já rendeu frutos. Em 2001, foram presos pela Policia Federal 13 bandidos ligados ao PCC às vésperas de assaltarem um avião carregado de dinheiro do Banco do Brasil, no aeroporto Salgado Filho. Foram condenados. Em 2006, a Polícia Federal prendeu 26 pessoas que escavavam um túnel no centro de Porto Alegre na intenção de subtrair milhões de duas agências bancárias. O golpe foi organizado pelo PCC.
Em 2017, a Polícia Civil prendeu 25 pessoas envolvidas em assaltos a banco na região noroeste do Estado, próximo à Argentina. Várias estavam refugiadas numa reserva indígena caingangue. Pelo menos dois dos presos tinham ligações com o PCC, inclusive batismo (rito de iniciação). Indígenas tinham sido aliciados para participar dos roubos.
Parece pouco, mas o suficiente para tirar o sono das autoridades.