2020 foi tempo perdido, na contabilidade de muita gente — inclusive na minha. Mas nem tudo são más notícias nesse ano da peste. No campo da segurança pública, alguns indicadores melhoraram.
Seria um raro efeito colateral benéfico da pandemia. Tudo leva a crer que a diminuição de certos crimes tem relação com a menor circulação de pessoas, de mercadorias e, portanto, de alvos dos criminosos.
Os crimes contra o patrimônio tiveram uma queda considerável no primeiro semestre deste ano no país, por exemplo, o que deve se repetir no balanço anual. Roubos a pedestres diminuíram 34%, segundo o Anuário da Segurança Pública. Assaltos a carros caíram 22,5%, e roubos de cargas, 25,7%. Roubos a residências registraram uma queda de 16%, enquanto aconteceram 18,8% menos roubos ao comércio.
Há também menos registros de crime de tráfico (-8,5%) e nos registros de posse e uso de drogas (-10,5%). Em contrapartida, ocorreu substancial crescimento na apreensão de drogas. A Polícia Rodoviária Federal, por exemplo, registrou 128% de aumento em maconha apreendida e 57% em cocaína. Estamos falando de primeiro semestre, mas a tendência é que essas reduções se consolidem.
Em resumo: ladrões e traficantes tiveram menor presença, porque os alvos dos primeiros e os clientes do segundo grupo circularam menos durante a pandemia. Muitos criminosos que se arriscaram perderam a liberdade.
Os roubos, se diminuíram em quantidade, ganharam em espetacularização. Nada menos que 12 grandes assaltos com tomadas de reféns resultaram em imagens traumáticas e prejuízo de milhões para a comunidade. O mais notório, no Sul, o ataque a agência do Banco do Brasil em Criciúma.
No campo dos crimes contra a vida, o Brasil registrou leva aumento, 7%, no primeiro semestre. Isso interrompeu uma celebrada redução de assassinatos nos dois últimos anos. Como a esperança é a última que morre, quem sabe o ano ainda fecha em queda?
O que não vai diminuir é o feminicídio. Aumentou 2% no primeiro semestre e tudo indica que esse número vai crescer até o final do ano. Parece que a pandemia levou à convivência de casais por mais tempo e à explosão de mágoas represadas, com as mulheres sofrendo a fatura.
E o Rio Grande do Sul? Parece uma ilha. Todos os principais indicadores criminais diminuíram, inclusive os de violência entre pessoas (que aumentaram no país). Políticas públicas de focar efetivos policiais nas cidades mais assoladas pelo crime têm surtido efeito. Oxalá continue assim.