Os gestores da segurança pública no Rio Grande do Sul e o Ministério Público resolveram mostrar os músculos. Mandaram para fora do território gaúcho nove integrantes de facções criminosas, a maioria deles condenados a dezenas de anos de reclusão.
A medida foi tomada porque, como já ressaltamos na semana passada, o Estado vive a volta das degolas, fenômeno de barbarismo adotado pelas facções para intimidar seus inimigos, mas que vinha caindo em desuso desde 2017. Desacertos entre os quadrilheiros jovens que estão nas ruas, na disputa por pontos de tráfico (sobretudo na Serra), levaram ao retorno de métodos cruéis de extermínio, como tortura e esquartejamento.
Não tem santo entre os removidos. Um deles é o traficante com maior domínio territorial dentro de Porto Alegre. Hoje um sujeito de perfil moderado, mas com um passado repleto de homicídios. Outro, ligado aos Bala na Cara (facção originária da zona leste da Capital), tem no currículo sequestro de mulheres de inimigos para exigir resgate, homicídios e assaltos. Um terceiro é contrabandista de armas do Uruguai e também coordenou sequestros de taxistas na Zona Sul do Estado — um dos quais acabou morto. Um quarto, ligado a Os Manos (facção oriunda do Vale do Sinos, hoje dominante no Estado), vivia no Paraguai até meses atrás, quando foi capturado. Tinha fugido dias depois de receber permissão para prisão domiciliar por risco de contrair covid-19 atrás das grades.
Ao mandar esses condenados para fora do Estado, o governo quebra a cadeia comunicativa dos líderes criminosos e seu esquema de lucro fácil. Para esses chefes de facções, isso é quase tão ruim quanto a morte. Isolados, longe dos familiares e amigos, levam anos para se recuperar.