Uma operação de transferência de criminosos para presídios federais fora do Rio Grande do Sul, iniciada na madrugada desta segunda-feira (9), tem um caráter pedagógico. Isso mesmo. É um recado das autoridades de segurança em resposta a ações violentas que voltaram a ocorrer nos últimos meses, dentro e fora das cadeias, principalmente no Interior.
Foram tirados do Estado nesta manhã, na Operação Império da Lei II, nove detentos de alta periculosidade, mas a lista é maior: já há outras transferências autorizadas pela Justiça e que devem ocorrer nos próximos dias.
O vice-governador e secretário da Segurança Pública, Ranolfo Vieira Júnior, destacou que a ação é uma continuidade da operação de mesmo nome feita em março. Dos nove transferidos, seis já estavam na lista daquela primeira fase, mas a Justiça não autorizou as transferências — o Ministério Público recorreu e agora obteve decisão favorável.
— Temos conseguido manter os indicadores em queda, mais ainda dois terços dos homicídios são decorrentes de disputas de organizações criminosas. Enquanto isso persistir, nós vamos seguir com essa postura de não admitir e vamos transferir — destaca Ranolfo.
A chefe da Polícia Civil, delegada Nadine Anflor, explicou que o trabalho visando a deflagração da operação se acentuou nos últimos 60 dias.
— Às vezes, são casos pontuais e nós mandamos sem ninguém saber. Desta vez, estamos unindo estes em caráter pedagógico, para mostrar quem manda. Não vamos aceitar violência — avisou a delegada.
Um dos indicadores que fizeram soar o alerta recentemente é o aumento de homicídios em outubro, segundo Nadine. A polícia ainda não informou o percentual de crescimento.
Participaram da Império da Lei II 15 instituições estaduais e federais. A coordenação é do Programa RS Seguro, com participação das Secretarias da Segurança Pública e da Administração Penitenciária.
Os escolhidos começaram a ser retirados de casas prisionais — como o Presídio Central — e de celas da Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc) às 22h de domingo (8). Reunidos na Penitenciária Modulada Estadual de Charqueadas, saíram escoltados em comboio terrestre às 4h15min desta segunda-feira em direção ao Batalhão de Aviação da Brigada Militar, ao lado do aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre.
Em paralelo, forças de segurança estão reforçando o policiamento nas ruas de cidades estratégicas e dentro dos principais presídios.
Na lista de motivações para mais essa transferência em grupo — a terceira, desde 2017, quando houve a Pulso Firme —, estão também homicídios e um esquartejamento praticados dentro da Penitenciária Estadual de Canoas (Pecan III) e a guerra de facções que tem causado uma série de ataques e mortes, especialmente, em Caxias do Sul, na Serra.
O clima de violência e disputa entre organizações criminosas em Caxias motivou reforço policial para a investigação de casos e para policiamento ostensivo e também fez com que oito apenados fossem removidos da Penitenciária Estadual de Caxias para outras prisões do Estado na semana passada.
Na Pecan, que deveria ser uma prisão livre de disputa entre facções, em setembro, um apenado de 25 anos foi morto com uma faca artesanal e teve pedaços do corpo colocados num saco de lixo, que foi pendurado nas grades da cela. A polícia já identificou o autor do crime.
Os presos transferidos nesta segunda-feira embarcaram pouco antes das 11h em uma aeronave da Polícia Federal — antes, fizeram teste de covid-19 e exame de corpo de delito. O destino de cada um ainda não foi informado pela SSP.
Histórico de transferências em grupo
- Operação Pulso Firme — A primeira ação de transferência de líderes de organizações criminosas para o sistema prisional federal ocorreu em 28 de julho de 2017, no governo de José Ivo Sartori. Foram removidos 27 detentos cujas penas somadas chegavam a mais de 1,2 mil anos de reclusão. Mais de três mil homens, de 20 instituições, foram mobilizados para o trabalho.
- Operação Império da Lei — Em 3 de março deste ano, ocorreu a primeira ação de transferência de criminosos feita pelo governo Eduardo Leite. A operação foi planejada dentro do Programa RS Seguro. Com a participação de mais de 1,3 mil agentes e o emprego de 306 viaturas, sete aeronaves — seis helicópteros e um avião —, foi feita a remoção de 18 detentos com posição de liderança nas principais organizações criminosas gaúchas para penitenciárias federais fora do Rio Grande do Sul. A ação contou com a participação de 15 instituições das esferas estadual e federal.
- Operação Império da Lei II — Segunda ação do tipo no governo de Eduardo Leite, foi planejada para cessar uma onda de violência que cresceu nos últimos meses, especialmente, no Interior. Neste momento, nove detentos foram transferidos, mas a lista pode aumentar.