As polícias gaúchas continuam apertando a rotina dos chefes de facções criminosas, mesmo quando a lei insiste em conceder a eles brechas para escapar da prisão. O último triunfo alcançado é a captura de André da Silva Dutra, o Gordo Dé, líder da facção Os Abertos (que, apesar do nome, é um agrupamento fechado e sanguinário). Ele foi preso pela Polícia Civil em Bombinhas, paradisíaca praia catarinense, quando fazia compras com a família em um supermercado. Bandido também tira férias, pensando o que…
O golpe em Gordo Dé vem em boa hora. A facção dele, parte da qual criou uma coligação chamada Antibala (para se opor aos Bala na Cara), é a maior responsável pela volta das decapitações e esquartejamentos nas últimas semanas no Rio Grande do Sul, um fenômeno que vinha em declínio desde 2017. O próprio Gordo responde a 10 inquéritos por homicídios e lavagem de dinheiro.
Gordo Dé estava solto graças às benesses da lei. Em 2018, alegou problemas de saúde ao requisitar benefício de liberdade vigiada com tornozeleira eletrônica. Deixou o Presídio Central a bordo de uma BMW e em 39 minutos rompeu o equipamento, escapando da vigilância. Desde então era procurado.
Não foi o primeiro. Fabrício Santos da Silva, o Nenê, líder da facção Os Manos, recebeu tornozeleira eletrônica em março, alegando risco de contrair coronavírus. Rompeu o aparelho em junho, fugiu e só foi recapturado em agosto, no Paraguai.
Questionados pela libertação de líderes do crime, não só no Rio Grande do Sul como em todo o país, muitos juízes alegam que não olham a capa do processo ao julgar – apenas se o examinado reúne condições de receber o benefício. Foi o que alegou o ministro Marco Aurélio, do Supremo Tribunal Federal (STF), ao soltar um líder do Primeiro Comando da Capital (PCC), maior facção brasileira. Pois deveriam olhar o processo, os antecedentes, a periculosidade. Ou só olham quando alguém do Judiciário foi ameaçado? Do contrário, as polícias continuarão a enxugar gelo.