As duas últimas semanas foram de estresse entre os fardados que ocupam cargo nos Palácio do Planalto. O último episódio ocorreu quando Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente, chamou de "banana de pijama" e "Maria Fofoca" o seu colega da Secretaria Geral de Governo, o general Luiz Eduardo Ramos. Culpou Ramos por cortes de recursos para combater incêndios. Fofoca, no caso, porque Ramos é o interlocutor preferencial do governo com políticos da base aliada.
Ramos, óbvio, não cortou porque quis, mas por diretrizes do Palácio do Planalto. O que mais chama a atenção - e sacode a cúpula das Forças Armadas - é a desenvoltura com que generais são atacados pelos radicais bolsonaristas. Mesmo aqueles que dizem "sim, senhor" a qualquer iniciativa governamental, como Ramos.
Ramos, aliás, pode ser retirado do cargo a qualquer momento para dar vaga a um político do Centrão. O consolo com que lhe acenam seria o Comando do Exército, mas enfrenta resistência no alto oficialato, justamente por ser um político (articular com parlamentares é sua missão maior no governo). Generais o enxergam como o oposto do distanciamento que deve marcar as Forças Armadas em relação a governantes.
Outro episódio incomodou muito os militares graduados, uma semana antes dos xingamentos de Salles. O próprio Bolsonaro desautorizou outro general do governo, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, a comprar vacinas chinesas. O presidente fez isso publicamente, quando descobriu que a iniciativa de vacinar era de um adversário político seu, o governador de São Paulo, João Doria. Ao invés de pedir para sair, Pazuello disse que "um manda e o outro obedece".
A postura de Pazuello foi criticada por um dos primeiros generais a romper com Bolsonaro, o gaúcho Carlos Alberto dos Santos Cruz. Ex-coordenador da Missão de Paz no Congo, ex-ministro da Secretaria Geral de Governo (antes de Ramos), ele caiu por pressão de militantes bolsonaristas que o acusavam de falar mal do presidente e não nomear gente mais engajada ideologicamente na causa do chefe.
Cruz jamais pediu para ficar, saiu atirando e agora critica a postura passiva de generais que decidem permanecer no governo. Em referência a Pazuello, Cruz tuitou: "Hierarquia e disciplina não podem ser confundidos com subserviência". O general também tem alfinetado a contradição de um governo que criticava políticos profissionais e hoje dá cargo a eles.
Mas o burburinho não para aí. A terceira má notícia para Bolsonaro, oriunda dos quartéis, veio esta semana do seu ex-porta voz, o general Otávio Rêgo Barros. Algo surpreendente, porque foi um dos fieis defensores do presidente mesmo quando o mundo parecia desabar sobre o Palácio do Planalto.
Rêgo Barros foi demitido meses atrás por Bolsonaro (que parece preferir fazer suas manifestações espontâneas, sem autorizar que sejam filtradas por interlocutores polidos). Deu o troco esta semana com uma artigo em que fala de líderes que desdenham dos auxiliares críticos, se acham deuses e "preferem os comentários babosos dos que o cercam e demonstrações alucinadas dos seguidores de ocasião".
Rêgo Barros, acredite, não está sozinho. Voltou a ser porta-voz, só que desta vez não do governo, mas de generais cultos, incomodados com humilhações que jamais imaginaram aturar.