Mesmo para os sangrentos padrões da fronteira Brasil-Paraguai, a morte daquele que era considerado o “patrão” do tráfico de drogas e armas naquela conturbada região foi cinematográfica. Jorge Rafaat Toumani, o Turco, foi assassinado com tiros de uma metralhadora antiaérea em 2016 numa das ruas que divide a cidade paraguaia de Pedro Juan Caballero e a brasileira Ponta Porã (MS). A arma usada no crime, uma Browning calibre .50, tinha cadeira acoplada e estava montada numa caminhonete.
A região, que conheço desde os Anos 90 e sempre foi um faroeste, mergulhou numa orgia de assassinatos desde então. Rafaat teria sido morto a mando de Jarvis Chimenes, o Pavão, um brasileiro-paraguaio (dupla nacionalidade) que estava preso no Paraguai e teria ordenado a morte desde a cadeia. Ele é um dos fornecedores de droga do PCC (Primeiro Comando da Capital), maior facção criminosa brasileira.
Mas e o que o mafioso do título desta coluna tem a ver com o caso? Bom, policiais que investigam o caso identificaram como autores do crime os brasileiros (ligados ao PCC) Elton Leonel Rumich da Silva (o Galã), Orlando da Silva Fernandes (vulgo Bomba) e um terceiro, italiano, de apelido Siciliano.
Corre na fronteira que Siciliano não é mero apelido. Ele seria o mafioso mais famoso do planeta: o italiano Matteo Messina Denaro, fugitivo da justiça desde 1993 e que figura nas listas da Interpol (Polícia Internacional) dentre os 10 criminosos mais procurados do mundo. A aliança com o PCC seria porque a facção exporta cocaína para a Itália.
Denaro, siciliano com 58 anos de idade cujo apelido é Diabolik, virou Capo di Tutti Capi (chefão) da principal máfia italiana, a Cosa Nostra, com a morte de Bernardo Provenzano, em 2016, e Salvatore Riina, em 2017. Ele é old fashion: gosta de matar pessoalmente. Cometeu os primeiros assassinatos aos 18 anos: emboscou com uma espingarda pai e filho, desafetos de sua família, numa lavoura da Sicília.
Filho de uma família tradicional siciliana, Denaro foi criado como playboy e ostentava sua fortuna. Isso até ser obrigado a sumir, por força dos 12 assassinatos pelos quais está condenado na Itália.
Mas guardei o melhor para o final. Sabem quais os assassinatos que deram fama mundial a Denaro? Ele organizou e participou das explosões de bombas que mataram os juízes Giovanni Falcone e Paolo Borsellino, em 1992. Os dois magistrados tinham condenado dezenas de mafiosos e estavam jurados de morte.
Denaro, que jamais cumpriu pena, teve a prisão perpétua pedida na Itália por esses e outros homicídios. É esse o sujeito que as polícias brasileira e paraguaia tentam encontrar. O leitor que quiser saber mais sobre ele pode conferir o documentário “Os mais procurados do mundo”, no Netflix, que reserva um capítulo inteiro a esse capo mafioso.