País em crise, investidores fugindo, mas os profissionais do dinheiro continuam faturando muito bem, obrigado. É o que mostram duas ações da Polícia Federal realizadas esta semana no Rio Grande do Sul. A primeira, em Santana do Livramento (cidade-gêmea da uruguaia Rivera), prendeu oito doleiros que introduziram R$ 200 milhões em espécie em bancos uruguaios. Alguns deles foram filmados levando dinheiro e depositando ele no Uruguai. Tudo sem comunicarem o Banco Central brasileiro, o que caracteriza crime de evasão de divisas.
O mais incrível é que, se contabilizadas as movimentações bancárias totais desse pessoal, foram mais de R$ 5 bilhões manipulados em seis anos.
A outra ação da PF foi nesta quinta-feira (24), em Chuí, também fronteira com o Uruguai, no extremo Sul gaúcho. Os seis doleiros investigados lá, todos cidadãos de famílias oriundas do Oriente Médio, movimentaram mais de R$ 230 milhões em diversas contas bancárias.
Vejam, a Lava-Jato começou com quantia bem menor, R$ 90 milhões movimentados por apenas um doleiro paranaense.
De onde vem tanto dinheiro? Até de gente honesta, mas sobretudo de espertos de vários tipos. Alguns são apenas Caixa 2 (sonegação fiscal) de bancos, empresas e políticos. É o chamado Gray Money (dinheiro cinzento), de firmas conceituadas, mas que buscam disfarçar ganhos. Esse qualquer doleiro aceita. Já o outro tipo, não tão comum, é o Black Money (dinheiro do mercado negro), todo ele oriundo de operações ilegais do começo ao fim: tráfico, contrabando, prostituição, carros roubados, por exemplo. Muito operador de banco reluta em lidar com esse, mas via de regra concorda, em troca de meio por cento de comissão.
Como fazem isso? Duas são as maneiras mais comuns, ambas consagradas na Lava-Jato. Uma delas, como ficou comprovado pelas filmagens em Santana do Livramento, é sacar dinheiro em espécie e introduzi-lo, às sacoladas, em bancos uruguaios. Pode ser em pequenas quantias, para melhor disfarçar.
A outra modalidade, mais usada, é o dólar-cabo. O doleiro recebe dinheiro (em reais) de empresários brasileiros e os distribui em uma rede de contas bancárias no Exterior, em nome de “laranjas” (intermediários com baixíssimo poder aquisitivo). Eles repassam esse dinheiro para contas de confiança do empresário. Tudo para evitar rastreamento por parte do Banco Central e pagamento de impostos.
O que espanta é saber que, seis anos e uma centena de presos depois da estreia da Lava-Jato, o esquema continua a pleno vapor, na fronteira gaúcha. Para os doleiros, não há crise e nem patriotismo. Quanto mais gente desejosa de retirar dinheiro do Brasil, melhor para eles.