O Mensalão não é apenas um fenômeno da política, acontece também nas facções criminosas enraizadas nos presídios brasileiros. É o que parece comprovar a Operação Caixa Forte, a mais significativa ação em décadas contra a maior facção criminosa brasileira, o Primeiro Comando da Capital (PCC).
A novidade do momento é a mesada repassada a 210 integrantes da facção, auxiliados porque estão enclausurados em presídios. Dentre esses beneficiados estariam dois apenados do maior complexo penitenciário do RS, situado em Charqueadas (Região Carbonífera gaúcha). O dinheiro era depositado na conta de parentes e amigos sem antecedentes criminais.
As buscas realizadas em sete endereços no RS (divididas entre Alvorada, Canoas, Gravataí e Charqueadas) tentam desvendar esses laços. Foram presas cinco mulheres (companheiras de criminosos) e dois apenados, que já estavam enclausurados na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc).
A data de hoje, 31 de agosto, é aniversário da fundação do PCC, que foi criado em 1993 no famigerado presídio do Carandiru (SP), após um massacre de presos pela PM. A organização se espalhou pela maioria dos Estados brasileiros e, conforme autoridades paulistas, já contra com 22 mil integrantes. Além do Brasil, está enraizada em outros cinco países sul-americanos: Bolívia, Colômbia, Guiana, Paraguai e Peru. Já domina quase que o ciclo completo do tráfico: comanda rotas de envio de entorpecentes para o Brasil e a distribuição nas ruas. Só falta mesmo controlar o plantio da matéria-prima da droga.
O Rio Grande do Sul é um dos Estados em que o PCC tem menos presença, porque é dominado por três facções regionais. Só que, mesmo assim, tem 729 simpatizantes mapeados, conforme dados do Ministério Público de SP publicados exclusivamente em 2018 por GaúchaZH. O cálculo dos promotores se baseia no inventário dos relatórios manuscritos que as quadrilhas ligadas à facção (conhecidas como “sintonias” das ruas) mandam para os chefes, que estão nas prisões.
Historicamente, dois locais concentram mais integrantes do PCC no Estado: Canoas (algumas bocas de fumo) e a região das Missões, sobretudo a Penitenciária de Ijuí, onde ficou abrigado nos anos 2000 o maior líder do PCC, Marcos Camacho, o Marcola.
O PCC firma acordos de proteção mútua em meio hostil. Em Estados dominados pelo bando, ele garante a sobrevivência dos parceiros e vice-versa: quando um do “partido” vai para prisões gaúchas, pede para ficar na galeria de alguma facção aliada. Aqui no RS a aliança é com a facção que domina o Vale do Sinos (Os Manos) e também tem raízes em todo o Estado. Eles fazem troca de contatos para contrabando de arma e drogas e até assaltos em conjunto. O filiado ao PCC pode praticar crimes com facções aliadas, em outros Estados, mas deve fidelidade (e uma parte dos lucros) ao bando paulista.