Fosse uma novela mexicana, o enredo que envolve o assassinado do pastor fluminense Anderson do Carmo seria considerado muito fantasioso para ser levado a sério. A começar pelo nome da personagem principal da trama, puro e singelo, Flordelis – a mulher do religioso.
Depois, pelo fato de não só ela ser apontada como mandante do homicídio, como seis dos filhos dele, que foram presos por participação no crime. Aliás, o casal têm 56 filhos (entre biológicos e adotados). Tudo parece exagero nessa história, só que nada disso é ficção: é vida real.
A Polícia Civil e o Ministério Público do Rio de Janeiro desencadearam na manhã desta segunda-feira (24) operação que resultou em nove presos e no indiciamento de Flordelis como mentora do assassinato. Ela só não foi presa porque tem imunidade parlamentar: é deputada federal (PSD-RJ), e os policiais precisam aguardar que algum dos tribunais superiores aceite o pedido de prisão. Mas a parlamentar, que ganhou fama como cantora gospel, já foi indiciada pelo crime e denunciada.
Conforme as investigações, ela teria tentado envenenar o marido três vezes, no que falhou. Aí encomendou aos filhos a simulação de um assalto. O pastor Anderson do Carmo foi morto com 30 tiros em junho de 2019, quando chegava em casa de carro. Flordelis estava junto no automóvel e, aos policiais, disse que o marido foi morto por ladrões em uma moto, surpreendidos pelo pastor na garagem.
O excesso de tiros, incomum em assaltos, fez os policiais desconfiarem de que se tratava de uma execução e não de um roubo. Depois, mediante cruzamento de testemunhos, vieram à tona depoimentos que mostram uma nada harmoniosa convivência entre o casal e deles com alguns dos filhos. Conforme a Polícia Civil, a motivação do assassinato é financeira: a deputada e alguns filhos estariam descontentes com a repartição dos ganhos do pastor.
Os investigados negam tudo, como já era esperado. É nas contradições dos depoimentos, mensagens de celular, análise de contas bancárias e histórico de brigas que os policiais se embasam para garantir que a própria família executou o pastor. Um drama quase bíblico, num lar que pregava a palavra de Deus.