Sem grandes portos para atuar, com exceção do localizado no município de Rio Grande, o crime organizado no Rio Grande do Sul se abastece, sobretudo, nas fronteiras. É nas cidades-gêmeas com municípios do Uruguai e da Argentina que os bandidos gaúchos buscam armas e drogas.
Às vezes rola um escambo: veículos roubados em troca de armas, droga no lugar de cigarros. Depende das carências do mercado e da estrutura que está por trás do negócio.
Isso ficou claro, mais uma vez, com duas ações comandadas pela Polícia Federal em 15 dias. Na manhã desta terça-feira (7), 49 pessoas foram presas em Uruguaiana e Itaqui por ajudarem a fornecer drogas e celulares para detentos da Penitenciária Modulada Estadual de Uruguaiana. Os próprios pais de alguns apenados estavam envolvidos no envio das mercadorias ilegais ao presídio.
Com ajuda do Exército, da Superintendência de Serviços Penitenciários (Susepe), da BM, da PRF e da Guarda Municipal, os federais aproveitaram para fazer uma limpa nas bocas de fumo uruguaianenses, cujos traficantes “formiguinhas” são controlados de dentro das prisões. As investigações mostram que os bandidos adquiriam armas na Argentina, país do qual Uruguaiana é separada pelo Rio Uruguai.
A ação desta terça desarticulou um esquema regional, que se limitava a Uruguaiana e Itaqui. Há poucos dias, em 19 de junho, uma terceira cidade fronteiriça foi alvo de operação similar da PF. Em São Borja, com apoio da Susepe e da Força Nacional de Segurança, os federais prenderam dois rapazes que portavam pistolas 9 mm e uma submetralhadora calibre .22, carregadores e farta munição em uma casa junto ao Presídio Estadual de São Borja. Uma das suspeitas é que fossem usadas para acerto de contas entre facções.
Sim, a guerra de facções metropolitanas se espalhou pelo Oeste gaúcho. Elas se abastecem com armamento na Argentina e no Uruguai, como mostrou reportagem especial do Grupo de Investigação da RBS (GDI). Inclusive mandam arsenais para a Região Metropolitana.
Na fronteira com a Argentina a principal disputa é entre os Bala na Cara e o Primeiro Comando do Interior, uma franquia da facção Os Manos (do Vale do Sinos). Um conflito que já deixou dezenas de mortos, mas que agora está em hibernação. Ações como a da PF previnem banhos de sangue que, muitas vezes, deixam inocentes mortos nas ruas fronteiriças.