Em março, o Grupo de Investigação da RBS (GDI) mostrou como funcionava uma fábrica clandestina de cigarros paraguaios, instalada no coração do Rio Grande do Sul, em São Sepé. A máquina instalada ali produzia 2 mil cigarros por minuto, cerca de 2,6 milhões de maços ao mês — isso equivale a 10% do que produz uma das mais modernas fábricas da Souza Cruz, a gigante multinacional fumageira.
A Polícia Civil, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) e o Ministério Público Estadual desencadearam uma operação que fechou a fábrica, situada numa antiga processadora de cereais na área rural de São Sepé. Foram presas 17 pessoas em flagrante, 11 delas, paraguaios.
Esses empregados eram trazidos do Paraguai e chegavam vendados para a indústria. Não tinham permissão de usar celular. Viviam ali mesmo, próximo às máquinas, num galpão que contava com cozinha e dormitório (por vezes dormiam em colchões no chão).
Fabricavam cigarro da marca 51, que não existe no Brasil, mas está entre os mais vendidos e chega quase sempre por meio de contrabando. Ou é fabricado ilegalmente, aqui mesmo no Brasil, por paraguaios.
Agora se sabe que as condições sanitárias da fábrica eram tão ruins quanto as trabalhistas. O promotor Alcindo Luz Bastos da Silva Filho (de Justiça de Defesa do Consumidor de Porto Alegre), e o delegado Joel Wagner (da Delegacia de Polícia de Proteção ao Consumidor da Polícia Civil), encaminharam a um laboratório amostras do fumo industrializado pelos paraguaios em São Sepé. Estão apavorados com os resultados.
Os cigarros continham, além de fumo, partes de insetos, pelos de animais (possivelmente ratos), fibras de tecidos... A análise mostrou também que o fumo presente nos cigarros apreendidos tem “teores de alcatrão e monóxido de carbono acima do teto permitido por legislação vigente no Brasil”.
Em resumo, os consumidores estavam tragando “rato por lebre”, insetos e substâncias ainda mais tóxicas que as costumeiras num cigarro convencional. Economizavam no preço por carteira, até 50% inferior ao legalizado. Mas, como se vê, é o legítimo barato que sai caro.