A Polícia Federal (PF) vai passar o dia dando explicações sobre a ação desencadeada no Rio e que mira o governador Wilson Witzel (PSC) e a mulher dele, uma advogada. Isso por várias razões: Jair Bolsonaro (sem partido) se queixou recentemente da performance da PF no Estado que é sua base eleitoral. E o presidente é notório desafeto de Witzel, ex-aliado político.
Outro fato é que a deputada bolsonarista Carla Zambelli (PSL-SP), em entrevista à Rádio Gaúcha um dia antes da ação contra Witzel, falou que a PF iria desencadear ações contra governadores, em operações envolvendo contratos para combate à pandemia de coronavírus. É exatamente isso que a Polícia Federal fez nesta terça-feira no Rio.
A PF investiga gasto de R$ 1 bilhão na construção de hospitais de campanha e aquisição de equipamentos durante a pandemia no Rio. A operação Placebo mira compras sem licitação de respiradores, máscaras e testes rápidos, com envolvimento da Organização Social (OS) Instituto de Atenção Básica e Avançada à Saúde (Iabas).
GaúchaZH falou com dois policiais federais. Ambos admitem que Bolsonaro deve estar vibrando com a ação, mas discordam que a PF tenha agido politicamente. Um delegado que atua na Operação Lava-Jato ressalta que as investigações começaram com a Polícia Civil e MP Estadual do Rio, que enviaram para a Procuradoria-Geral da República (PGR), que por sua vez fez os pedidos de busca ao Superior Tribunal de Justiça (STJ).
— É surreal supor que todas essas instituições agiram para favorecer Bolsonaro. Na realidade a suspeita de fraude existe, foi levantada pelas próprias autoridades estaduais e a PF está cumprindo bem sua função de polícia judiciária da União, porque envolve verbas federais — analisa esse delegado.
Já o deputado federal Ubiratan Sanderson (PSL-RS), que é policial federal, resume sua opinião:
— Está tudo dentro dos padrões normais da PF, que agiu com a devida concordância do Ministério Público Federal (MPF) e autorização do Judiciário. Não vejo qualquer suspeição ou caráter ideológico nesta operação.
GaúchaZH apurou que a PGR instaurou o inquérito dia 12 de maio, por iniciativa própria, embora já existissem investigações estaduais no Rio. A pandemia já estava a pleno. O que chama a atenção é a rapidez da investigação: em menos de 15 dias os policiais colheram indícios, pediram à Justiça mandados de busca e deflagraram a operação. Célere, para os padrões da PF. Mesmo que a motivação não tenha sido política, vai ser difícil desmanchar essa impressão. Até porque Bolsonaro, menos de duas horas após a ação, parabenizou a PF publicamente.