Causa espanto a muita gente o fato de um delator, jurado de morte, ter dispensado proteção e ido viver sua vida. O homem, Douglas Gonçalves Romano dos Santos, estava envolvido diretamente em pelo menos 18 homicídios, confessou os crimes e apontou participantes de mais de 60 assassinatos em Porto Alegre e Região Metropolitana. Ele também mostrou o cemitério clandestino onde vítimas eram enterradas.
Faz parte da lógica do submundo, portanto, que ele também tenha sido assassinado. Pode ter sido represália pela delação. O que surpreende, no entanto, é o fato de ele ter pedido desligamento do programa de proteção a testemunhas pelo qual era beneficiado. Por que?
A explicação talvez seja comportamental. Para muitos criminosos, é preferível ficar em liberdade — mesmo com risco de uma emboscada — do que permanecer monitorado pelas autoridades policiais, como é o caso dos que estão sob proteção estatal.
Grande parte dos delinquentes começa na "carreira" por não se enquadrar nas exigências da sociedade, que são muitas, como todos sabemos. Aspirantes a criminosos, em muitos casos, não têm paciência para obedecer, repelem autoridade, detestam cumprir horário e, também, a ideia de um salário mínimo com jornadas exaustivas de trabalho. Gostar, quase ninguém gosta...mas a rebeldia, em alguns casos extremos, resulta numa oposição sistemática às regras sociais. Daí fica fácil ser recrutado para crimes.
Não sabemos se esse é o caso do delator que desistiu da proteção oficial. Ele estava há dois anos no Protege, sem incidentes. O fato é que, mal escapou da vigilância policial, ele se envolveu em confusão. Foi baleado numa briga, no início de fevereiro. A polícia vai investigar, agora, se ele retomou atividades criminais desde que largou o programa de proteção. É possível que o monitoramento das autoridades estivesse tolhendo seus movimentos, daí a escolha que fez. Uma liberdade que durou pouco. Sem apoio dos policiais que dispensou, foi rapidamente rastreado por seus inimigos. Que eram muitos.