A etapa da Lava-Jato desencadeada na madrugada deste dia 2 no Rio será comemorada por duas das maiores e mais controversas autoridades do país: o presidente Jair Bolsonaro e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes. Por motivos diversos.
A operação tem ordem para prender 14 auditores e analistas da Receita Federal, suspeitos de investigar empresários fluminenses com vistas a extorsões. Pois uma das maiores queixas de Bolsonaro, desde que assumiu, é justamente contra funcionários do Leão no Rio, que teriam feito uma devassa nas contas de seus familiares. O presidente inclusive determinou trocas nas aduanas do Estado, seu domicílio eleitoral — o que provocou reação de fiscais e uma crise que levou a trocas de diversas autoridades desse setor de fiscalização.
Bolsonaro agora poderá usar a operação da Lava-Jato como exemplo de que tinha razão nas suas críticas. Muita gente vai ressaltar que as ordens de prisão, aliás, foram despachadas pelo juiz Marcelo Bretas, eleitor assumido do presidente. Mas, justiça seja feita, o magistrado tem mandado prender gente de todas as tendências políticas.
Já Gilmar Mendes foi, ele próprio, investigado por auditores da Receita no Rio (além de sua mulher, Guiomar). E um dos presos na Lava-Jato nesta quarta-feira, adivinhe, é o homem que teria autorizado a investigação nas contas do ministro do STF: o auditor da Receita Marco Aurélio da Silva Canal. Ele inclusive foi citado por Mendes, em fevereiro deste ano, ao se queixar de perseguição:
"O que se sabe é quem coordenou essa operação é um sujeito de nome Marco Aurélio da Silva Canal, chefe de programação da Lava-Jato no Rio de Janeiro. Portanto, isso explica um pouco esse tipo de operação e o baixo nível", disse o ministro do STF.
Ou seja, um dos maiores críticos da Lava-Jato, Mendes teve hoje o apoio da operação que tanto critica.
No caso do ministro, não há porque insinuar que o juiz Bretas o ajudou com qualquer interesse. Os dois são notórios desafetos, justamente pelas críticas do ministro ao que considera excessos lava-jatistas.