A sugestão de que seja arquivado o inquérito que investiga possível envolvimento do presidente Michel Temer em corrupção no porto de Santos, feita pelo diretor-geral da Polícia Federal (PF), Fernando Segóvia, provocou mal-estar entre policiais federais.
Segóvia disse que, até o momento, não há provas de que Temer tenha tentado beneficiar a empresa Rodrimar, alvo principal do inquérito sobre o porto de Santos. "Pelo contrário: o próprio presidente não aceitou a mudança que poderia beneficiar a empresa. Então, assim, os indícios são muito frágeis", declarou o diretor-geral da PF em entrevista à agência britânica de notícias Reuters.
Pelo WhatsApp, um grupo de delegados que atua na Operação Lava-Jato redigiu uma nota de repúdio à declaração de Segóvia.
"Os integrantes do Grupo de Inquéritos da Lava Jato no STF informam que a manifestação do Diretor Geral da Polícia Federal que está sendo noticiada pela imprensa, dando conta de que o inquérito que tem como investigado o Presidente da República tende a ser arquivado, é uma manifestação pessoal e de responsabilidade dele. Ninguém da equipe de investigação foi consultado ou referenda essa manifestação, inclusive pelo fato de que em três de anos de Lava Jato no STF nunca houve uma antecipação ou presunção de resultado de Investigação pela imprensa", diz o texto, num grupo interno da PF.
A Associação de Delegados da Polícia Federal (ADPF) também promete divulgar nota a respeito, neste sábado. O presidente da entidade, delegado Evandir Paiva, diz que a manifestação de Segóvia provocou "incredulidade e inconformismo".
O conflito entre delegados da Lava-Jato e seu diretor-geral era esperado desde que Segóvia foi nomeado. Em novembro ele chegou a dizer que "uma única mala de dinheiro" não representa materialidade da corrupção, em referência à mala com R$ 500 mil apreendida com Rodrigo Rocha Loures, assessor de Temer, após suposta negociação de propina.
Foi também durante o governo Temer que a direção-geral da PF tomou outra iniciativa que desagradou o núcleo duro de combate à corrupção: determinou que os delegados da Lava-Jato em Curitiba também atuem em outros casos, não apenas nos inquéritos que envolvem desvios na Petrobras e outras estatais. Os policiais interpretam isso como esvaziamento da operação.