A jornalista Carolina Pastl colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
Do campo à Capital, a 2ª Feira da Agricultura Familiar se transformou em um espaço de recomeços em Porto Alegre. Por um lado, resgata uma parte da cidade que foi duramente afetada pela enchente. Por outro, dá oportunidade de retomada aos produtores rurais no interior do Estado que também foram atingidos pela catástrofe climática.
De Lajeado, no Vale do Taquari, Alã Henrique Pflugseder é um deles. O negócio da sua família, a Embutidos São Bento, foi afetado desde o primeiro dia em que a água começou a avançar no município. Primeiro, com o racionamento de água e a falta de alimento e remédios para os suínos. Depois, com a logística. A destruição de pontes e a obstrução de vias prejudizou o escoamento da produção.
É por isso que Alã diz:
– Desde a enchente, toda feira que a gente faz é um recomeço.
Para retomar os seus negócios, o produtor trouxe para a Capital banha suína, torresmo, linguiça, copa, salame e lombo defumado. Receitas da família, “do mesmo jeito que a gente fazia com o vô no galpão”, detalha.
E o sabor tem agradado o público. A aposentada Glades Neutzling veio da Zona Norte para o Centro só para comprar de novo um dos seus produtos.
— Comprei na segunda, vim hoje (ontem) e devo vir no sábado também — avisa ao produtor, com um sorriso.
Atrás de uma banca colorida pelo amarelo de abelhas em crochê, está outra família que foi afetada pela cheia: a Zanchetta, da Agroindústria Mel da Longevidade, de Veranópolis, na Serra. Para eles, o impacto maior foi na matéria-prima: as abelhas.
— De 120 caixas (de abelhas), sobrou umas 60. Não deu para colher nem um quilo de mel para nós comer — conta Luis Antonio, que toca o negócio com a sua esposa, Doraci.
Aos poucos, o casal busca reerguer a sua produção, que variava entre 1,5 mil e 2 mil quilos de mel por safra. Depois de fazer parcerias com apicultores, a feira agora é outra oportunidade para recomeçar, continua Luis. Para isso, trouxe um carregamento e tanto: variedades de mel — inclusive mel com favo —, própolis e mandolate caseiro.
Correria boa nas bancas
Não havia sido fechado o terceiro dia de feira quando a coluna visitou o espaço e já havia bancas, como a do Luis e a do Alã, correndo para repor o seu estoque. Tamanho o sucesso dos produtos na edição deste ano.
E os negócios não estão se restringindo apenas dentro da feira. A Vinhos Ivo Dalla Corte, de Garibaldi, na Serra, por exemplo, fechou nesta semana uma parceria com um restaurante dentro do Mercado Público. Foi com o seu chardonnay.