A jornalista Carolina Pastl colabora com a colunista Gisele Loeblein, titular deste espaço.
Em Rio Pardo, localizado no coração do Rio Grande do Sul, o rio que leva o mesmo nome do município não pediu passagem. Acordou com a sua fúria às 3h30 da manhã, entre outros habitantes, o produtor rural Francisco Limberger. "Tá subindo, tá subindo, tá subindo", é o que ouviu dos seus funcionários antes da água marrom invadir o terreno. Só deu tempo de tirar as máquinas das lavouras de arroz e de soja, que estavam em colheita.
Uma semana depois do episódio, a água ainda não baixou em Rio Pardo e em diversos outros municípios gaúchos afetados. E relatos como o de Francisco começam a se multiplicar, ajudando a desenhar o tamanho do estrago também nas propriedades rurais.
Para o produtor, a sensação que fica é a de incredulidade:
— Foi uma enxurrada. Nunca vi nada igual. Não sobrou nada vivo embaixo daquela água — repetiu pelo menos três vezes por telefone.
De soja, Francisco perdeu tudo: 30 hectares. De arroz, metade dos 90 hectares já havia sido colhido. O resto também foi por água abaixo. "Foi muita água", reforçou o produtor:
— Tem gente me dizendo que tem até um carro dentro da lavoura.
No caso do produtor Itamar Piccolo, de Jaguari, na região central do Estado, a enchente levou metade dos 600 hectares de soja e metade dos 300 hectares com arroz. Apesar da perda milionária, ele encontra um alento no fato de não ter sido maior. Conseguiu, assim como Francisco, tirar os equipamentos a tempo. Ainda assim, a sensação que fica é parecida:
— É até complicado de falar... São inúmeros gastos, um ano de trabalho para chegar na hora e não colher — se emociona.
No Vale do Rio Pardo, em Santa Cruz do Sul, o produtor Airton da Silva não teve a mesma sorte. A enchente atingiu em cheio os seus três tratores e uma colheitadeira, que estavam nos 80 hectares plantados com arroz.
— Agora estou correndo atrás de equipamentos para tentar recuperar os danos nas máquinas — acrescenta o produtor.
Na lavoura de Airton, assim como a do Itamar e do Francisco, a água ainda não baixou. Mas ele acredita ser difícil "recuperar alguma coisa".
No Sul, em Sertão Santana, foi a chuva que apodreceu as lavouras. No caso do produtor Helton Rafaelli, a perda foi total no milho, com 10 hectares. Na soja, com 20 hectares, chegou a 60%.
— Neste ano, a gente vai empacar, não vai ter lucro. Só vai pagar o investimento — se preocupa o produtor.
E a preocupação é ainda maior em razão de um compromisso no próximo sábado (18), no Hospital Santa Casa, na Capital. É quando está marcado o nascimento do seu primeiro filho, Arthur.