À medida que avança a colheita das lavouras de verão no Rio Grande do Sul, a janela de tempo até o plantio da safra de inverno vai ficando mais curta. O que significa que o tempo de decisão também vai ficando menor. E se o tamanho da área a ser destinada ao trigo, principal cultura da estação, é incerto, uma certeza há. A de que não será possível repetir a marca de 2023, quando 1,52 milhão de hectares foram plantados. O motivo para essa afirmação está, literalmente, na origem do ciclo. Faltam sementes para se chegar a esse número.
Projeções apontam que existem sementes certificadas para cerca de 1 milhão de hectares. Considerando que agricultores tenham conseguido salvar, da safra passada, para uso próprio, não seria possível se chegar a mais do que 1,2 milhão de hectares. Nesse cenário, tem-se uma redução de 26% em comparação ao espaço do cereal no ano passado.
– Mesmo que queria plantar, o produtor vai esbarrar na semente. Isso e o problema do seguro agrícola, são pontos que devem travar (a área). Muitos produtores se frustraram no ano passado, tiveram uma decepção muito grande com o mecanismo – avalia Hamilton Jardim, coordenador da Comissão de Trigo da Farsul.
Com procura maior do que a oferta de sementes, o agricultor também deve ter de desembolsar mais para a compra. E com custos maiores, mira nas cotações que, neste momento, têm um descolamento grande entre o trigo disponível e o de mercado futuro, observa índio Brasil dos Santos, sócio-fundador da Solo Corretora:
– Tem um cenário de clima não ideal para o trigo no hemisfério norte, o que tem deixado o mercado mais nervoso. No disponível, vem impactando paulatinamente com altas nos preços.
A tensão do conflito Rússia-Ucrânia, dois grandes produtores e exportadores, é outro fator a ser considerado.
– Manchetes vindas da Rússia trouxeram uma relevante pressão altista para os contratos de trigo esta semana. Além dos ataques à infraestrutura portuária ucraniana, que adicionam riscos ao trânsito de grãos no Mar Negro, o mercado começou a se preocupar com a deterioração das condições da safra russa – pontua Alef Dias, analista de Grãos e Macroeconomia da Hedgepoint.