O ano de 2023 vai entrar para a história da pecuária de leite do Estado como aquele em que a crise alcançou inclusive produtores consolidados, fazendo com que um novo contingente de agricultores abandonasse a atividade. Para a Associação de Criadores de Gado Holandês do Rio Grande do Sul (Gadolando), nunca houve um momento tão ruim quanto esse. A reboque das dificuldades no consumo e da enxurrada de importações de lácteos de países do Mercosul e com problemas climáticos acumulados, o valor do litro de leite caiu em plena entressafra, quando a oferta cai.
— Pararam produtores com muita consistência. Nunca tivemos tão ruim. Bateu no psicológico. O próximo número de redução (de pessoas na atividade) será assustador — afirma o presidente da entidade, Marcos Tang.
Só nos últimos dois anos, o número de propriedades com produção de leite no RS caiu 18%, apontam dados da Emater. De 2015 para cá, o percentual de encolhimento é de 60,7%. A preocupação com a situação foi tanta que, durante a Expointer, a Gadolando levou para a pista do desfile dos grandes campeões uma faixa em que podia ser lida a frase Estão matando os produtores de leite. Será difícil recuperar o setor. Para 2024, alguns dos fatores que aprofundaram a crise se mantêm no horizonte, caso da importações e dos efeitos do clima sobre o alimento destinado ao rebanho. Mas há perspectivas de melhoras para 2024, a partir de um consumo com tendência de alta.
— Estamos sentindo que chegamos no fundo do poço. É paradoxal chegar no final do ano com uma melhora de preço. Esperamos ao menos chegar logo no custo e produção – pontua o presidente da Gadolando.
O atual preço de referência projetado pelo Conseleite para o litro é de R$ 2,1051, o que segundo Tang, não cobre os gastos, estimados entre R$ 2,25 e R$ 2,30. Outro ponto que ele considera importante para melhorar a equação da produção é a busca por novas fronteiras para o leite produzido no RS.
— O produtor que ficou não pode se dar ao luxo de trabalhar sucateado. Tem de atender a uma série de normas de qualidade e sanidade e, para isso, precisa de várias ferramentas e uma matriz na mão que "funcione". É aí que entra a Gadolando — sintetiza o presidente, em menção ao papel da entidade.