Depois de dois verões sob a marca da estiagem, é a perspectiva de um inverno chuvoso e de temperaturas amenas que entra no radar de alerta da produção gaúcha. Sempre essencial, a umidade em excesso também pode causar estragos à safra. Boletim do Sistema de Monitoramentos e Alertas Agroclimáticos (Simagro) da Secretaria Estadual da Agricultura para os meses de junho, julho e agosto aponta um cenário de precipitações mais intensas e temperaturas menos rigorosas a partir da influência do fenômeno El Niño. A condição é de neutralidade, mas os índices já mostram uma curva ascendente de aquecimento (das águas do Oceano Pacífico, característica do evento).
— A condição mudou completamente, vai virar do avesso — destaca Flávio Varone, meteorologista e coordenador do Simagro-RS.
Altos volumes de chuva deverão ser acumulados no segundo semestre, algo que preocupa por dois motivos. Primeiro pelos impactos que pode ocasionar às culturas de inverno, como a do trigo. A umidade excessiva combinada a temperaturas não tão frias pode favorecer o aparecimento de doenças causadas por fungos, comprometendo a quantidade e a qualidade da colheita. Outro ponto é a possibilidade de atraso no ciclo, com efeito em cascata sobre o início do plantio da safra de verão.
— O problema que se pode ter é de chuva mais intensa no final do ciclo e no período da colheita — reforça Varone.
A última safra em que o fenômeno ocorreu de maneira mais forte, como a projetada agora, foi em 2015/2016, com prejuízos causado por cheias. O prognóstico climático é apontado como um dos fatores (ao lado de escassez de crédito e preços menos valorizados) que têm pesado na definição do espaço a ser cultivado com o trigo. O cereal, que teve um aumento expressivo de área no ano passado, alcançando 1,45 milhão de hectares, não deve ter variação muito significativa neste ano.