Gisele Loeblein

Gisele Loeblein

Jornalista formada pela UFRGS, trabalha há 20 anos no Grupo RBS e, desde 2013, assina a coluna Campo e Lavoura, em Zero Hora. Faz também comentários diários na Rádio Gaúcha e na RBS TV.

Mais do que paródia a Anitta
Notícia

A pergunta a ser respondida pela gaúcha que influencia o agro brasileiro no Fórum da Liberdade

Camila Telles ganhou visibilidade nacional ao fazer versão da música "Show das Poderosas", com defesa do setor; com mais de 300 mil seguidores, a também produtora participa nesta sexta (15) do evento

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Camila Telles / Arquivo Pessoal
Camila (D), ao lado do pai, João Augusto, da mãe, Elisa, e da irmã, Letícia, time que veste a camisa da Hortaria, marca desenvolvida por ela

Quatro anos depois de ganhar visibilidade nacional com uma paródia da música Show das Poderosas, da cantora Anitta, o crescimento da produtora rural, empresária e influencer gaúcha Camila Telles, 30 anos, vai além dos números — que são expressivos, diga-se de passagem: mais de 300 mil seguidores somente no Instagram. A maturidade acumulada na carreira da jovem nascida em Cruz Alta, no Noroeste, formada em Relações Públicas, lhe permite, como ela avalia, centrar forças no propósito traçado, que é o de "combater a desinformação sobre o agronegócio". Aliás, se define não como influenciadora, mas sim, como defensora da atividade:

— Quero ser uma vitrine para o nosso setor. 

Não por acaso Camila foi escalada para estar como palestrante do Fórum da Liberdade, que ocorre nesta quinta (13) e sexta-feira (14) na Pucrs, em Porto Alegre. Ela estará no painel Agronegócio: vilão ou o bolo do crescimento do Brasil? , a partir das 10h30min de sexta, ao lado de Antônio Cabrera, Joaquim Leite e Nei César Mânica. 

Além do trabalho na comunicação, com viagens por todo o Brasil, há também a porção produtora e empresária. Desde 2016, ao lado da família, toca a Hortaria, marca de produção (e agora agroindústria) de hortaliças comercializadas em mais de oito cidades no entorno de Cruz Alta. No ano passado, fez parte da relação da Revista Forbes das 100 Mulheres Mais Poderosas do Agro brasileiro. A coluna conversou com Camila sobre o tema que será abordado no evento. Confira trechos da entrevista.

Sem dar muito spoiler da palestra, o agro é o vilão ou o bolo do crescimento do Brasil?
Primeiro, estou super feliz em participar do Fórum da Liberdade. Sempre estive como ouvinte e ser convidada para estar em um painel com grandes nomes do agro, sendo a única jovem mulher presente, para mim, é uma responsabilidade muito grande. Como pega um público que não é necessariamente do agro, e eu acho que é nesse público que temos de estar, não podemos chegar simplesmente falando que o agro é tudo, que está em tudo, amem o agro. Pelo contrário, temos de mostrar o trabalho árduo do dia a dia do produtor rural, os desafios , o quanto não quer destruir o meio ambiente, não pensa em envenenar as pessoas, mas sim, em conseguir produzir de mãos dadas com a preservação ambiental. Prova disso são as áreas de preservação permanente, o nosso Código Florestal. Mostrar o lado que o produtor vive, não o que as pessoas acham que ele vive. Estou super feliz de poder estar nesse painel justamente para mostrar uma visão de jovem, produtora rural e que está vivendo isso no dia a dia nas redes sociais.

Como comunicar isso para o público em geral?
É muito mais simples do que a gente imagina, pelo que  tenho reparado. Às vezes, a gente pensa na comunicação como algo extraordinário, que tem um valor muito alto, ou que tem que ter uma campanha gigantesca e, na verdade, precisa fazer o "arroz com feijão", que é mostrar o óbvio. Se é óbvio para mim que o ovo veio da galinha, pode ser que para uma criança ou para um jovem que não tenha acesso direto a essa informação, não seja.  Eu acho que a comunicação hoje está entrando em um momento, principalmente para esse público mais jovem, de simplicidade, mostrar dia a dia, mostrar o perrengue, o que está acontecendo, não só a parte boa do agro, que muitas vezes é o que a gente mostra, com drone, maquinário agrícola novo, picape. Mas um agro mais humanizado, que nem tudo são tudo flores, que tem desafios gigantescos. Acho que é muito mais humanizar e abrir as porteiras para mostrar o que a gente vive, para as pessoas não ficarem com a versão de que o agro se acha superior. Muito pelo contrário, mostrar de uma maneira leve que nós estamos juntos com as pessoas porque sem a cidade o campo não vive e sem o campo a cidade não vive.

O que acha que ainda existe de dificuldade entre o agro e a sociedade ?
A desinformação, principalmente nas redes sociais. E o cunho ativista que tomou conta dos assuntos do agro. O agro virou uma arma de ataque político. Mas a gente percebe que teve esse crescimento da ira das pessoas com o agro porque colocam de um lado o agronegócio como algo negativo e, de outro, a agricultura familiar e o pequeno produtor que, na verdade, têm a mesma importância. Isso é um outro trabalho que temos de fazer, para que a sociedade pare de enxergar o agro dividido. Tudo o que envolve a produção de alimentos e que precisa gerar lucros é negócio. É um agronegócio. A agricultura familiar é um nicho importantíssimo, a convencional, a orgânica, em grande escala, exportação, todas são importantes ou para a balança comercial, ou para estar no nosso prato do dia a dia. A sociedade tem de buscar mais informações com fontes que visem isso. Não ficar ouvindo opiniões de ONGs ou de pessoas que nunca pisaram em uma propriedade rural para então formar a sua opinião. Não estou dizendo para amarem o agro, mas que pelo menos escutem o produtor rural, que visitem uma propriedade rural para, então, formar opinião.

Você é influenciadora, empresária de comunicação e produtora rural. Como faz para tocar tudo isso?
Sou a terceira geração da nossa família que toca negócios na propriedade rural. Eu e a minha mãe criamos a Hortaria logo depois que me formei e voltei para trabalhar na fazenda. Criamos com o intuito de estar mais próximos do consumidor final, sempre com essa ideia de levar um pedacinho do campo para dentro da cidade. A nossa propriedade sempre foi de soja, milho e trigo. Hoje, brinco que a Hortaria virou a menina dos olhos da família, trabalhamos todos juntos. E cresceu, estamos com uma agroindústria dentro da propriedade. Entregamos o que é colhido e produzido lá pronto para ser consumido, higienizado e embalado. Já estamos em mais de oito cidades da região. É um orgulho muito grande, porque a gente vê que está dando certo uma ideia que começou como um sonho.

Tem projetos de ampliar?
A vontade de ampliar é gigantesca, mas acho que a gente ainda está no momento de deixar tudo muito redondo. Então, como a Hortaria cresceu, acho que agora tem de entender bem como manter essa questão da indústria com a produção. Mão de obra também é sempre um desafio. Mas com certeza sonhamos alto, em franquear a hortaria, em tê-la não só em todo o Rio Grande do Sul, mas em todo o Brasil. Quem sabe, futuramente a gente não amplie para esse formato.

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