O mercado brasileiro de carne bovina como um todo, inclusive o gaúcho, já começa a sentir os efeitos da Encefalopatia Espongiforme Bovina — doença popularmente conhecida como mal da "vaca louca", recém detectada no Pará. Ainda que o caso esteja sendo tratado como isolado e atípico, o país suspendeu suas exportações para a China, respeitando o que dita o protocolo sanitário entre os dois países.
O país asiático abocanha 60% de toda a proteína nacional exportada pelo Brasil.
— Infelizmente já afetou as exportações, principalmente para o mercado chinês, no momento que houve suspeita do caso — afirma Ladislau Böes, presidente do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados no Rio Grande do Sul (Sicadergs).
Conforme informou a entidade, a Marfrig, única empresa habilitada a vender carne bovina para a China no Rio Grande do Sul, dará férias coletivas para seus funcionários em duas das três unidades de abate e desossa no Estado. A outra seguirá operando com redução de abate. A coluna aguarda confirmação oficial da empresa.
Coordenador do Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (Nespro), da UFRGS, Júlio Barcellos estima que em 45 dias seja possível retomar as vendas para o país. Na última vez que o problema foi detectado em território nacional, em setembro de 2021, em Minas Gerais e no Mato Grosso, demorou 100 dias para que os embarques fossem normalizados. Nesse período, o preço do boi gordo subiu 10% no Brasil e 3% no Rio Grande do Sul.
— A China não vai conseguir segurar os preços da carne no mercado interno por muito tempo sem o seu maior fornecedor (o Brasil). Isso representa milhares de toneladas que deixarão de ter no varejo — completa Barcellos.
Em âmbito federal, o trabalho está sendo feito. Nesta quinta-feira (23), o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, recebeu o embaixador da China no Brasil, Zhu Qingqiao, para prestar todos os esclarecimentos sobre os esforços do governo brasileiro para monitoramento do caso.
— Todas as providências estão sendo adotadas imediatamente em cada etapa da investigação e o assunto está sendo tratado com total transparência para garantir aos consumidores brasileiros e mundiais a qualidade reconhecida da nossa carne — declarou o ministro.
O caso
A doença foi detectada em um touro de 9 anos, criado em pasto, em uma pequena propriedade em Marabá, no Pará.
- Causado por um príon, molécula de proteína sem código genético, o mal da vaca louca é uma doença degenerativa. As proteínas modificadas consomem o cérebro do animal, tornando-o comparável a uma esponja
- Até hoje, o Brasil não registrou casos clássicos de vaca louca, provocado pela ingestão de carnes e pedaços de ossos contaminados
- Além de bois e vacas, a doença acomete búfalos, ovelhas e cabras
- A ingestão de carne e de subprodutos dos animais contaminados com os príons provoca, nos seres humanos, a encefalopatia espongiforme transmissível
*Produção: Carolina Pastl