A recuperação prevista para a economia gaúcha em 2023, com alta do PIB estimada em 5,86%, acabou ficando em segundo plano no tradicional balanço de final de ano da Federação da Agricultara do Estado (Farsul). Com o argumento da ciência, a entidade reforçou a preocupação já manifestada pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) com a política fiscal do novo governo. A aprovação da PEC da transição, que autoriza ultrapassar em quase R$ 200 bilhões o teto do gasto em quatro anos, foi o gancho inicial para pontuar potenciais efeitos advindos de ações como essa.
— O aumento do gasto público gera inflação. Se gera inflação, precisa aumentar a taxa de juro — enfatizou Antônio da Luz, economista-chefe da Farsul.
Para chegar ao momento atual de inquietação, o economista revisitou os efeitos dos modelos adotados nas gestões de Luiz Inácio Lula da Silva e de Dilma Rousseff. E cruzou os dados dos modelos utilizados com a performance da economia brasileira. No centro da inquietação trazida pela Farsul estão a nova matriz econômica e a moderna teoria monetária que Da Luz comparou ao kit covid, dizendo que ambos "não funcionam".
Na quarta-feira (7), a CNA também havia feito ponderações em relação a esse tema. Questionado sobre a disponibilidade e interesse da entidade em participar dos debates da equipe de transição, o presidente João Martins afirmou que as medidas entendidas como necessárias já haviam sido apresentadas em documento entregue a todos os candidatos. Ao ser perguntado pela coluna sobre isso, o presidente da Farsul, Gedeão Pereira, reforçou o posicionamento e disse não enxergar, neste momento, "ninguém no gabinete de transição com quem se possa conversar":
— Por enquanto, não fomos chamados ao diálogo.
Quanto à agropecuária do Estado, 2023 deve ser marcado pela recuperação — e crescimento real —, depois de um 2022 em que as perdas provocadas pela estiagem derrubaram o PIB do setor, que deve fechar em queda livre de 53%. No próximo ano, o aumento de área projetado deve puxar um crescimento de 59%.