No centro dos protestos registrados na China, a política sanitária de covid zero é um tema que também está no radar do agronegócio brasileiro. Não poderia ser diferente, considerando que o país asiático é o maior parceiro comercial do setor. Conforme dados compilados pela Federação da Agricultura do Estado (Farsul), de janeiro a outubro deste ano, o gigante foi destino de 33,38% das exportações agropecuárias do Brasil. Com tamanha representatividade, qualquer movimento pode trazer impacto. Economista-chefe da Farsul, Antônio da Luz explica que as restrições impactam a economia, com reflexo sobre a demanda:
— As importações deles são muito ligadas ao crescimento econômico. Uma política de covid zero leva o crescimento para níveis mais baixos.
Prognósticos apontam um avanço entre 2,5% e 3,6% para o PIB da China em 2022, bem abaixo dos 8,1% de 2021. Como resultado prático, o país tirou o pé das importações (de todos os seus fornecedores globais).
Outra preocupação que voltou ao radar do agro é o fechamento de portos. A medida afeta não a demanda, mas a distribuição. A expectativa que se tinha era de que a China amenizasse as restrições relacionadas à covid após as eleições em outubro, o que na prática não aconteceu. Nas recentes manifestações no país asiático, uma das demandas da população tem sido a renúncia de Xi Jingping, em seu terceiro mandato.
Com um apetite turbinado em razão dos estragos da peste suína africana em 2018, os chineses se consolidaram como clientes número 1 da proteína animal brasileira desde então. Os embarques de 2022, no entanto, trazem um recuo em volume tanto na carne de frango (17,5%) quanto na suína (24,5%). Resultado que traz, na avaliação do presidente de ABPA, Ricardo Santin, a combinação do efeito dos lockdowns sobre o consumo e a recomposição do plantel doméstico de suínos:
— Tem tido mais lockdowns, mas as restrições nunca deixaram de existir. Os embarques do Brasil caíram, mas menos do que os de outros países.
O economista da Farsul acrescenta que a situação preocupa, mas que “há problemas também do lado de cá” que podem mexer com o mercado tanto quanto a conjuntura chinesa.