Depois de começar em elevação, o custo na produção gaúcha de leite engatou em setembro o quarto recuo mensal. O Índice de Insumos para a Produção de Leite Cru (ILC), levantado pela Federação da Agricultura do Estado (Farsul) registrou deflação, de 0,4% em relação a agosto. No acumulado do ano, o percentual é de 0,28%, período em que o IPCA teve aumento de 4,09%. Pelo cenário atual, há perspectiva de que as despesas analisadas (são itens que correspondem a 80% do total dispendido pelo produtor) fiquem em patamar inferior ao da inflação oficial em 2022.
— O custo desacelerou, provavelmente vai fechar o ano abaixo da inflação do Brasil, podendo haver crescimento do índice no último trimestre — pondera Ruy Silveira Neto, economista da Farsul responsável pelo ILC.
Entre os fatores que puxaram a redução no índice estão a queda no valor dos fertilizantes e dos combustíveis. E que contrabalancearam o aumento verificado nas cotações de milho, ingrediente da alimentação animal, seja na silagem ou no concentrado. Daqui para a frente, há alguns fatores que devem estar no radar dos produtores, em razão da influência que podem exercer sobre os custos. A finalização da safra americana é um deles. A redução no volume colhido, em relação à expectativa inicial foi o que impulsionou os preços do milho e, mais recentemente, também na soja. Outra questão é como deve se desenrolar a crise global, na esteira do conflito entre Rússia e Ucrânia no Leste Europeu.
— Na cesta (de insumos analisados no cálculo do índice), tem muitos elementos que são impactados pelo cenário internacional. E, depois que os americanos finalizam a safra, o mercado começa a prestar a atenção na da América do Sul — completa Silveira Neto.
É nesse contexto que se encontra terreno para um possível aumento de custos no último trimestre. O economista ressalta que, mesmo com a redução, as margens do produtor continuam pressionadas, estreitas, em razão do fato de que os preços recebidos também caíram. E é preciso lembrar, ainda, que nos últimos dois anos, houve uma escalada do custo de produção no leite. Desde o começo da pandemia, em 2020, o ILC teve 23 meses de alta em um total de 36 meses. Com aumentos, em alguns meses, de mais de 10%.
— Agora, começa a vir um alívio, o que não significa que o produtor não continua com margem baixa — reforça o coordenador do ILC.