Parte de quem vive em Porto Alegre tem um compromisso às quartas-feiras e aos sábados: ir à Feira Ecológica do Menino Deus, no pátio da Secretaria da Agricultura, na Avenida Getúlio Vargas. O que muitos não sabem é que a feira é uma das mais antigas da Capital e está completando 28 anos de história nesta semana — e quantas histórias. A coluna separou algumas delas.
Quem vê o galpão de madeira no meio das árvores e do estacionamento da Secretaria não imagina que nem sempre foi assim. A feira do Menino Deus, como também é conhecida, começou com apenas duas lonas de caminhoneiro e graças à Cooperativa Ecológica Coolméia, formada por um grupo de pessoas associadas à Grande Fraternidade Universal, praticantes do naturismo e da ioga. As madeiras foram doadas pela CEEE, na realidade, antigos postes de luz. Cada agricultor levava a sua banca, como hoje ocorre com a feira da rua José Bonifácio — a mais antiga da Capital.
— No início, chegamos a fazer até panfleto para colocar na caixa de correio da vizinhança do bairro para divulgar a feira e o que era o produto orgânico — lembra o produtor de Nova Hartz Belmonte Schunck, 75 anos, um dos seis pioneiros a comercializar no local.
Isso porque a feira nasceu em 1994, quando pouco se sabia sobre cultivar alimentos sem o uso de agrotóxicos, lembram os organizadores.
— A feira do Menino Deus é uma vanguarda. Nós antecipamos uma necessidade contemporânea (de alimentos saudáveis) ao criarmos, em tempo de aquecimento global, uma estrutura que “esfria o planeta” — comenta Laércio Meirelles, coordenador da ONG Centro Ecológico, uma das parceiras da Coolméia.
E a aposta deu certo. Belmonte, por exemplo, foi um dos vários que resolveu ir para Porto Alegre tentar vender seus legumes e verduras porque a demanda começou a crescer na Capital. E acabou ficando: criou a sua rede de clientes na feira.
— Hoje, se eu atraso uns minutos já tem gente me ligando para saber se eu venho. E tem outros que ligam uns dias antes de eu ir (para a feira) para ver se eu consigo alguma verdura específica, algum chá - conta o agricultor, que acorda todo sábado às 3 horas da manhã junto com a sua esposa, Doralice, para pegar a estrada às 4 horas, rumo à Capital.
— Essa feira criou um relacionamento diferente entre o consumidor e o agricultor familiar, que nem sempre é valorizado. Teve uma vez que vi um chorando de felicidade porque uma senhora perguntou “Quanto custa essa maravilha?” — lembra ainda Laércio.
Atualmente, a feira do Menino Deus funciona das 11h30 às 17h nas quartas, com 25 bancas, e das 7h às 12h30 aos sábados, com 28 bancas. Ao todo, são mais de 500 famílias na produção de regiões como Serra, Litoral Norte, Vale dos Sinos, Vale do Caí e Região Metropolitana — todas com certificação orgânica. O local possui estacionamento gratuito.
*Colaborou Carolina Pastl