Uma passada de olhos na imagem acima pode até confundir, afinal, a pelagem malhada é típica de bovinos de leite da raça holandesa, comumente associados às vacas que produzem esse alimento. Mas a recém-nascida é de outra espécie: uma cordeirinha. Fora do comum, diga-se de passagem. A coloração não usual para ovinos é resultado da curiosidade de um produtor da zona rural de Vacaria, nos Campos de Cima da Serra. O também advogado Rubem Antônio Santos Filho cruzou uma fêmea da raça ile de france (com lã branca e em abundância) com um macho dorper (com pouca lã e de cor branca predominante, mas normalmente preta na cabeça).
— Procurei na internet essa possibilidade, mas não encontrei ninguém que tivesse realizado, de fato, o cruzamento. Resolvi tentar e veio essa coisa bonitinha aí — conta Rubem.
Na família, quem se apegou mesmo pelo bichinho foi o filho, Rubem Neto, dois anos.
— Deu até nome: é a Senhorita. Essa nós não vamos abater, ficou de estimação — conta o pai.
Segundo a Associação Brasileira de Criadores de Ovinos (Arco), cruzamentos entre raças são comuns, mas cabe ao produtor aceitar os riscos. Para Márcio Armando de Oliveira, zootecnista e inspetor técnico da entidade, neste caso, como são duas raças com aptidão para a produção de carne, deve-se ter menor vigor híbrido nos produtos — algo não muito interessante do ponto de vista comercial:
— Quanto mais distantes as aptidões de raças, ou mais distantes em referência à sua origem elas forem, maior a heterose (fenômeno caracterizado pelo melhoramento ou aumento de qualquer qualidade biológica em uma prole híbrida ou mestiça, ou seja, com pais sem parentesco ou com parentesco muito distante) e, portanto, melhores cordeiros em comparação à média dos pais.
Na propriedade, há mais 20 exemplares da cruza por nascer. O plantel conta ainda com 40 vacas, cinco cavalos e 40 ovinos.
*Colaborou Carolina Pastl