A cada dia que passa sem chuva, maiores e mais irreversíveis ficam os prejuízos nas lavouras de milho no Rio Grande do Sul. É por isso que o levantamento de safra da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) apresentado nesta terça-feira (11) ainda não traz toda a magnitude do impacto da falta de chuva na cultura. Os dados representam o retrato traçado até 19 de dezembro do ano passado, data em que se encerrou a coleta de informações. O volume agora estimado, de 3,06 milhões de toneladas é 30,3% menor do que o que foi colhido na safra passada. O que já indica que o problema é dos grandes.
— Nessa conta não entra o milho que não foi semeado, em torno de 10% da área. E que não se sabe se será plantado. Mas inclui perdas de 12% em lavouras que são irrigadas — pondera Carlos Bestétti, superintendente regional da Conab no Estado.
Embora os danos sejam mais dramáticos no milho, em razão da condição consolidada, outra culturas e atividades também sentem os efeitos do tempo seco, com nenhuma ou pouca chuva, de distribuição irregular. Na soja, os dados da Conab apontam já uma leve redução, de 1,5% na produtividade (volume produzido por hectare) nas plantações de soja. Como a área cultivada cresceu, isso ainda não se reflete no total da produção desse grão, projetada em 21,22 milhões de toneladas, 2,1% maior do que em 2021.
Bestétti pontua que há impacto em todas as fases do ciclo da soja. Na emergência, com plantas que não germinaram ou germinaram e morreram. No desenvolvimento vegetativo, afetando o crescimento, e na floração, com o abortamento de flores e, consequentemente, número muito menor de vagens formadas. A maior parte das lavouras gaúchas está em desenvolvimento vegetativo, o que dá espaço para a chuva agir ainda.
— Se chover bastante, as que estão nessa etapa têm chance de desenvolver mais e recuperar um pouco a produção — observa o superintendente da Conab.
No arroz, que tem 100% das áreas irrigadas, o alerta vem das fontes. Rios pequenos e açudes estão secando pela falta de chuva e, na Região Metropolitana, o baixo nível do Rio Gravataí determinou a adoção do rodízio no uso da água que não seja para abastecimento humano. A produção de 8,08 milhões de toneladas prevista é 2,3% inferior à de 2021.
— Tem áreas abandonadas já e muita lavoura sendo levada a banho — reforça Bestétti.